Renato Paschoal Fernandes foi identificado como oficial da reserva do Exército |
"Esta é para você, Dilma. Estou só
esperando o toque da corneta". Homem que postou foto ameaçando Dilma com
suposta bala de fuzil se explica após repercussão: "Foi uma
brincadeira. Nunca fiz mal a ninguém"
Um ex-aluno do CPOR publicou no Facebook uma foto onde mostra um
cartucho de fuzil e diz “Esta é para ti, Dilma. Estou só esperando o
toque da corneta.” O indivíduo vestia um uniforme do Exército
Brasileiro, com as insígnias de oficial. Após a foto se tornar de
conhecimento público, a conta foi apagada, e, entrevistado, o indivíduo
afirmou que era uma brincadeira, e que alguém tornara a foto pública, o
que não seria sua intenção. “Foi uma brincadeira. Obviamente, não foi
uma coisa legal o que eu coloquei, é ambígua a foto, mas eu não sou
terrorista, nunca fiz mal a ninguém”, disse.
Questionados por reportagem do G1, o Ministério da Defesa e a
Polícia Federal deram as seguintes explicações: segundo o MD, o autor
da ameaça serviu ao Exército em 1998, e não faz mais parte dos quadros
da Força. O objeto exposto na foto é um chaveiro, portanto não há razão
para que se investigue o fato. O uniforme usado no foto já não é mais
usado, e o indivíduo apresenta-se com a barba por fazer, o que fere os
regulamentos militares. Já a PF foi mais sucinta, dizendo que não cabe
investigação por não se tratar de munição real.
Quanto ao GSI, responsável pela segurança da titular da Presidência da
República, não há qualquer menção ao que pensa sobre o fato, e quais
providências tomou em relação a ele, se é que tomou alguma. Sequer foi
questionado pela reportagem. Tampouco saberemos por outros meios, porque
é óbvio que tudo que se refere à segurança do ocupante da cadeira é
secreto.
O que fica exposto é como as instituições são, ou parecem ser,
inconsequentes no trato com algo dessa gravidade. Se era um cartucho de
munição ou um chaveiro é questão de nenhuma importância no contexto do
fato. A foto foi publicado no Facebook na noite de domingo, logo após o
anúncio do resultado da eleição presidencial. A gravidade do gesto,
amplificada pelo momento da publicação, em que as redes socias
fervilhavam de manifestações e ódio e preconceito, é que deve ser levada
em conta. O crime de Ameaça, Art. 147 do CPB, é tipificado como
“Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, de causar-lhe mal
injusto e grave” é bem claro quanto a isso, e ajusta-se perfeitamente ao
simbolismo da imagem.
É rísivel, para não dizer pior, que o Ministério da Defesa e a Polícia
Federal se agarrem ao fato de que não era um cartucho de munição, mas
um chaveiro, para justificar a inércia diante dessa atrocidade.
Experimente alguém publicar um vídeo ou uma foto dessa natureza nos
EUA, e pode contar em minutos o tempo em que terá a casa invadida pelas
equipes táticas do DHS, do FBI e do Serviço Secreto. Com a consequente
condução a algum lugar secreto de detenção, onde terá alguns anos para
meditar sobre a besteira que fez, nos intervalos dos interrogatórios e
das sessões de “waterboarding”.
No Brasil parece haver uma dificuldade imensa em se aprender com o
passado. Nunca tivemos um presidente assassinado, ao contrário dos EUA
que já tiveram Lincoln e Kennedy, para ficar nos mais conhecidos. Por
isso lá essas coisas são levadas muito a sério. Israel também já teve
seu quinhão, com Yitzhak Rabin. Segundo o documentário “Os Guardiões”,
em que são entrevistados os seis últimos diretores do Shin Bet, Rabin
foi morto por um extremista de direita em um momento político muito
semelhante ao que vivemos hoje, onde pessoas são objeto do ódio de
parcela significativa da população.
O caso do sequestro do hotel em Brasília
deixou bem claro que há pessoas dispostas a desbordar dos comentários
raivosos e partir para a ação violenta. Como a arma e o colete eram
fakes, tratou-se do assunto como o surto psicótico de um indivíduo
doente. Quem acreditar nesse simplismo, está sendo ingênuo. Foi só a
primeira demonstração de onde se pode chegar com o radicalismo que
domina muitas cabeças. Muitas mais do que se pode avaliar. É terreno
fértil para a proliferação de malucos de todos os tipos, inclusive
daqueles que nada mais querem do que deixar sua marca na história, como
Mark Chapmann, o assassino de John Lennon.
Existem por aí pessoas que sonham em matar a Dilma ou o Lula. Eles
sabem, e nós sabemos, que quem fizesse isso seria idolatrado por milhões
de pessoas. Todos esses que vomitam ódio nos comentários de noticias e
nas redes sociais. Por isso é recomendável levar muito a sério esse
tipo de ameaça e tratá-las com o rigor devido. Antes que seja tarde.
Jorge Lima No Pragmatismo Político
Do Blog CONTEXTO LIVRE.
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