"Em sua primeira edição após o maior vexame da história do jornalismo brasileiro, de uma revista condenada a publicar direito de resposta em pleno dia das eleições por tentar golpear a democracia, Veja publica "um manual de sobrevivência no segundo mandato"; de quebra, a revista comparou a presidente Dilma a nomes como Hitler e Mussolini; sobre a acusação falsa da semana passada, nenhuma explicação; sócios da editora, da família Civita, assim como o executivo Fábio Barbosa, seu presidente, e o jornalista Eurípedes Alcântara, continuam devendo explicações; detalhe: a primeira semana pós-eleições registrou queda acentuada do dólar e disparada da Bovespa; pelo andar da carruagem, a Abril, que zera seu estoque de credibilidade, terá que se preocupar com sua própria sobrevivência, enquanto os brasileiros prosperam
Brasil 247
Protagonista do maior vexame editorial da história do jornalismo brasileiro, ao ser condenada a publicar direito de resposta em pleno dia das eleições por tentar golpear a democracia, Veja dobrou sua aposta na infâmia. Sua edição deste fim de semana demonstra que seus acionistas, executivos e editores perderam de vez a noção do ridículo.
O exemplo maior é a reportagem chamada "Manual de sobrevivência no segundo mandato". Segundo o texto de Mariana Barros e Marcelo Sakate, o Brasil estaria vivendo uma grande ameaça. A "imprensa livre" desaparecerá, o Supremo Tribunal Federal será aparelhado, o Brasil financiará mais e mais ditaduras e até os investimentos pessoais estarão sob risco. Detalhe: a primeira semana pós-eleições foi marcada pela queda acentuada do dólar e disparada da Bovespa. Ou seja: quem leu Veja e apostou contra o Brasil perdeu dinheiro.
Em seguida, no texto "A arte de iludir", Dilma é comparada a personagens como Mussolini e Hitler por defender o plebiscito sobre a reforma política. A qualidade da argumentação de Veja pode ser medida pela última frase da reportagem. "Então, à luz da experiência histórica, fica combinado o seguinte: plebiscito com o PT no poder, não, não e não!".
A piada da edição, no entanto, mais uma vez coube a Eurípedes Alcântara, o diretor de Redação da publicação. "Veja não procurou criar efeitos eleitorais contra ou favor de nenhum candidato ao publicar a capa da semana passada com a revelação de que o doleiro Alberto Youssef disse aos policiais e procuradores federais que Lula e Dilma sabiam do funcionamento do esquema de corrupção na Petrobras", afirma ele, em sua Carta ao Leitor. Como diria o célebre jornalista Paulo Nogueira, editor do Diário do Centro do Mundo e ex-diretor da Abril, pausa para gargalhar.
Aliás, na reportagem sobre a Operação Lava Jato, Veja reafirma as acusações da semana passada, mas não as comprova. O tal "depoimento" de Youssef, mais uma vez, não aparece. Continua a ser o que aparentemente é: uma peça de ficção.
Honestidade intelectual só se encontra na coluna de José Roberto Guzzo, membro do conselho editorial da Abril. Diz ele que a eleição trouxe uma boa e uma má notícia, pela ótica da Abril. Começando pela má: Dilma venceu. A boa: "agora está garantido, sem margem de erro, que ela ficará no cargo só mais quatro anos". O que seria, segundo Guzzo, "um alívio". Para os brasileiros, o alívio parece ser o fato de que, pelo menos Guzzo, não irá abraçar teses golpistas, respeitando os quatro anos de mandato de Dilma.
Pelo que se lê na edição, a família Civita, o executivo Fábio Barbosa, que preside a Abril, e o jornalista Eurípedes Alcântara, que dirige Veja, fizeram uma escolha. Optaram pela irrelevância. Em vez de se adaptar à realidade e tentar compreendê-la, dobraram a aposta na infâmia. Ao que tudo indica, terão que se preocupar com a própria sobrevivência da Abril, enquanto o Brasil e os brasileiros avançam."
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