terça-feira, 15 de julho de 2014

700 empresários turbinam pauta dos BRICS no Brasil

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Encontro organizado pela CNI, em Fortaleza, inclui ponto crucial na agenda de cúpula entre presidentes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul; empresários pedem o uso de moedas nacionais em transações comerciais entre companhias dos cinco países; previsão é de fechamento de negócios totais de US$ 3,9 bilhões nos setores de agronegócio, infraestrutura, logística, mineração e máquinas e equipamentos; ideia é que, no futuro, compras e vendas sejam feitas em reais, rublos, rupias, yuans ou rands – e não mais na moeda americana; ano passado, Brasil manteve com BRICS relacionamento de US$ 101 bilhões; EUA e Europa não vão gostar; novo eixo de desenvolvimento
247 – Uma carta aberta assinada por cerca de 700 empresários que participaram de encontro de negócios organizado pela Confederação Nacional da Indústria, em Fortaleza, na véspera da reunião de cúpula dos presidentes dos BRICS, pede a aceleração da substituição do dólar como moeda oficial para transações entre os cinco países do grupo.
A intenção é a de que haja incentivos oficiais para que compras, vendas e parcerias entre companhias privadas de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul sejam feitas com o uso de reais, rublos, rupias, yuans e rands – as respectivas moedas nacionais – e não apenas em dólar ou euro. Trata-se de uma inovação nunca praticada, em larga escala, no comércio internacional.
Assim como a criação do Novo Banco de Desenvolvimento e do Fundo de Contingenciamento Emergencial, a proposta de troca de moedas tem tudo para preocupar – e irritar – os meios financeiros dos Estados Unidos e Europa. Significa, na prática, uma declaração de independência do grupo de países que nasceu a partir de uma expressão criada pela economista Jim O’Neill e, em seis anos de encontros de cúpula, vai ganhando organicidade real.
Abaixo, notícias da Agência Brasil e da CNI a respeito:
Empresários do Brics vão sugerir troca direta de moeda entre países do bloco
Daniel Lima e Sabrina Craide – Enviados Especiais
Os empresários dos países que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) vão apresentar amanhã (15), na reunião de chefes de Estado do grupo, um documento com sugestões para aprimorar a economia do bloco.
Uma das propostas é permitir a troca direta de moedas entre os países, para facilitar e baratear os custos de transação. Segundo o presidente da sessão brasileira do Conselho Empresarial do Brics, Rubens De La Rosa, a transação deverá ser feita no âmbito do Banco de Desenvolvimento do Brics, que deve ter sua criação formalizada na reunião de amanhã.
 “Isso vai permitir que, se eu tiver que fazer uma remessa à Índia, eu não tenha que converter [o valor] em dólares e depois em rupias, gerando custos de transação. Assim, teremos pequenas baixas que diminuirão o custo financeiro de operação. É uma medida simples e possível de ser feita no ambiente do banco”, explicou Rosa.
Para os empresários, a criação de um banco para o bloco irá acelerar o comércio, negócios e investimentos entre os países do Brics.
Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, o banco será importante para todas as empresas dos cinco países, principalmente por permitir que investimentos entre eles tenham mecanismos de financiamento internacional com garantias dadas pelas matrizes das empresas. “É muito difícil para uma empresa fazer investimento lá fora simplesmente com seus próprios recursos. Então, esse mecanismo será fundamental para aumentar o número de empresas brasileiras com investimentos no exterior”, afirmou Andrade.
Os empresários vão sugerir também medidas para facilitar a emissão de vistos de negócios e a redução das barreiras não tarifárias, como restrições técnicas e fitossanitárias. “Hoje, as empresas brasileiras estão sujeitas a regras de agências reguladoras e, muitas vezes, os produtos importados não atendem às mesmas especificações, nem estão sujeitos às mesmas regras. O que queremos é que a empresa brasileira compita no mesmo ambiente, que os produtos importados tenham que atender às mesmas especificações dos produtos brasileiros”, ressaltou o presidente da CNI.
CNI - Na tarde de hoje, mais de 700 empresários dos países do bloco participaram do encontro organizado pela CNI, realizado paralelamente à 6ª Cúpula do Brics. Durante o evento, o Conselho Empresarial do Brics vai debater as expectativas econômicas e de integração do bloco. Para a noite de hoje, está prevista uma rodada de negócios, que deve reunir representantes de mais de 600 empresas dos cinco países e movimentar US$ 3,9 bilhões.
Os empresários do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul trabalham pelo fortalecimento da integração econômica entre os países que formam os BRICS. Na segunda-feira (14), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) organiza o Encontro Empresarial dos BRICS, o Business Network e o Conselho Empresarial dos BRICS, com o objetivo de melhorar a pauta do comércio e o investimento entre os cinco países.
Os três eventos ocorrem no Centro de Convenções do Ceará, em Fortaleza, às vésperas da reunião dos chefes de estado dos cinco países. A expectativa é que o Business Network, a rodada de negócios que reunirá 602 empresas, movimente US$ 3,9 bilhões. Há interesses nas áreas de agronegócios, infraestrutura, logística e equipamentos de transporte, mineração, máquinas e equipamentos, tecnologia da informação, farmacêutico e equipamentos médicos, energia e economia verde.  “Nossa prioridade é buscar uma agenda pragmática. Queremos que os BRICS avancem e aproveitem a aliança política para reforçar a agenda econômica. Conhecemos todos os desafios e as diferenças entre nós. Mas poderemos ser úteis uns aos outros se trabalharmos juntos”, diz o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi.
Dentro das recomendações aos governos, os empresários dos cinco países defendem a aceleração da criação do Banco de Desenvolvimento dos BRICS para promover e facilitar o comércio, negócios e investimentos. Também entendem que é necessário facilitar a emissão de vistos para viajantes a negócios, reduzir barreiras não tarifárias, como restrições técnicas e fitossanitárias, eliminar obstáculos ao comércio, além do engajamento dos chefes de estado para solucionar problemas relacionados com políticas de comércio entre os BRICS, como dumping e subsídios.
Entre as propostas empresariais aparece ainda o aumento das transações em moeda local, com a infraestrutura financeira, sistema de liquidação e o envolvimento dos bancos centrais para reduzir o uso de moeda fora do grupo nas transações comerciais e de investimentos dos BRICS. Por fim, os empresários defendem a eliminação de subsídios à exportação na agricultura.
A FATIA DO BRASIL – O comércio entre o Brasil e os demais países dos BRICS cresce sem parar, principalmente pela participação da China. Em 2013, a corrente de comércio brasileira com as demais economias do grupo foi de US$ 101 bilhões, representando 21% da corrente de comércio brasileira com o mundo. Em 2008, esse percentual era de 14%. No ano passado, os BRICS foram o segundo bloco mais importante para as exportações brasileiras atrás apenas dos países da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi).
No entanto, do total, US$ 84 bilhões foram negócios com a China, o que torna a pauta brasileira com os BRICS concentrada em poucos produtos primários. Mais de 70% das exportações nacionais para aqueles países são de soja, minério de ferro, óleo combustível bruto. O inverso ocorre com as importações. Cerca de 95% da pauta de importações do Brasil é de produtos manufaturados. A CNI entende que uma maior aproximação do Brasil com os BRICS deve agregar valor às vendas externas do país.

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