Aécio monta força-tarefa para rebater acusações de ter desapropriado
terreno do tio: Torraram R$ 13,9 milhões em Cláudio, mas há um aeroporto
equipado a 36 km dali, em Divinópolis
O senador Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência, organizou uma força-tarefa para tentar minimizar o desgaste causado pela revelação de que, no final de seu segundo mandato como governador de Minas, construiu aeroporto num terreno de parentes que foi desapropriado pelo Estado no município de Cláudio (MG).
O senador Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência, organizou uma força-tarefa para tentar minimizar o desgaste causado pela revelação de que, no final de seu segundo mandato como governador de Minas, construiu aeroporto num terreno de parentes que foi desapropriado pelo Estado no município de Cláudio (MG).
O próprio Aécio, que tinha agenda às 16h desta terça-feira (22) em
São Paulo, adiou o evento para ficar mais tempo em Minas, acompanhando a
operação pessoalmente. O caso foi revelado pela Folha no domingo (20).
Os tucanos decidiram atuar em duas frentes: politicamente, vão acusar a presidente Dilma Rousseff (PT) de usar a máquina do Estado para perseguir adversários.
Leia a seguir o que diz o colunista da Folha Elio Gaspari, sobre o aeroporto tucano
Torraram R$ 13,9 milhões em Cláudio, mas há um aeroporto equipado a 36 km dali, em Divinópolis
Por Elio Gaspari
Desde domingo, quando o repórter Lucas Ferraz contou que a Viúva
construiu uma pista de pouso asfaltada no município de Cláudio (MG), a 6
km da fazenda centenária do ramo materno da família de Aécio Neves, o
candidato tucano à Presidência da República ofereceu explicações
insuficientes para satisfazer a curiosidade de uma pessoa que pretenda
votar nele em nome do seu compromisso com a gestão e a transparência.
Situações desse tipo afloram em campanhas eleitorais, e a maneira como
os candidatos lidam com elas instrui o julgamento que se faz deles.
O campo de aviação de Cláudio fica a 120 km do aeroporto de Confins e a
36 km da pista bem equipada de Divinópolis. Lá estão as terras da
família Tolentino, na qual nasceu Risoleta, avó de Aécio e mulher de
Tancredo Neves. Ela morreu em 2003, deixando no espólio a fazenda da
Mata, recanto onde seu neto às vezes se refugia. A obra custou R$ 13,9
milhões ao governo do Estado e foi concluída em 2010, quando ele o
governava. No ano anterior, segundo o IBGE, a receita orçamentária
realizada do município foi de R$ 26,3 milhões.
Aécio respondeu com uma generalidade: Tudo foi feito com a mais absoluta
transparência e correção . Juntou uma redundância: O aeroporto foi
construído em área pertencente ao Estado, não havendo, portanto,
investimento público em área privada . Finalizou com uma precipitação:
Já foi tudo explicado .
Por enquanto, há em Cláudio uma pista de 1 km, capaz de receber jatinhos
de até 50 lugares, sem equipamento ou homologação da Anac. Falta
explicar é a necessidade de a Viúva ter construído essa nova pista
naquelas terras. A área foi desapropriada em 2008. Sem isso, a obra não
poderia ter sido custeada pelo governo do Estado. Os Tolentino disputam o
valor oferecido pelas terras (R$ 1 milhão). Uma peritagem, ainda que
tardia, poderá resolver a questão. O próprio candidato argumenta que
aeroportos locais, que não possuem voos comerciais, ou pistas de pouso
fechadas são prática comum em aeroportos públicos no interior do país,
como forma de evitar invasões (...) que possam oferecer riscos à
segurança dos usuários . Tem toda razão e leva ainda o mérito de expor
uma questão relacionada com os investimentos públicos em pistas que só
recebem aviões privados. Talvez Cláudio precisasse de uma. Do jeito que
está, recebe irregularmente uns dois aviões por semana. O ex-governador
informa também que não se tratou de construir uma nova pista, mas apenas
de modernizar outra, de terra, feita em 1983, quando seu avô era
governador e um Tolentino, prefeito da cidade. A Viúva não deve ter
ficado com essa conta, pois a terra era privada.
A comodidade de uma pista de pouso paga e mantida pela Boa Senhora é o
objeto do desejo de todo fazendeiro. Tome-se, porém, o exemplo de Paul
Mellon, um finíssimo bilionário que vivia entre seu haras da Virgínia e o
mundo. Comprou um avião e, para seu conforto, construiu um aeroporto
dentro de suas terras, em Upperville. Lá, avisa-se: Uso privado. É
necessária autorização para pousar .
Mellon fez o aeroporto com o dinheiro dele. A pista de Cláudio, como
diria Armínio Fraga, foi construída com o meu, o seu, o nosso .
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