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Governo de Minas fez aeroporto em terra de tio de Aécio
No final de seu mandato como governador do Estado, tucano gastou quase R$ 14 milhões no empreendimento
Família do candidato do PSDB à Presidência da República é dona de uma fazenda que fica a 6 km do aeroporto
LUCAS FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL A CLÁUDIO (MG)
O governo de Minas Gerais gastou quase R$ 14 milhões para construir um
aeroporto dentro de uma fazenda de um parente do senador tucano Aécio
Neves, no fim do seu segundo mandato como governador do Estado.
Construído no município de Cláudio, a 150 km de Belo Horizonte, o
aeroporto ficou pronto em outubro de 2010 e é administrado por
familiares de Aécio, candidato do PSDB à Presidência.
A família de Múcio Guimarães Tolentino, 88, tio-avô do senador e
ex-prefeito de Cláudio, guarda as chaves do portão do aeroporto. Para
pousar ali, é preciso pedir autorização aos filhos de Múcio.
Segundo um deles, Fernando Tolentino, a pista recebe pelo menos um voo
por semana, e seu primo Aécio Neves usa o aeroporto sempre que visita a
cidade, onde o senador mantém seu refúgio predileto, a Fazenda da Mata, a
6 km do aeroporto.
Dono do terreno onde o aeroporto foi construído e da fazenda Santa
Izabel, ao lado da pista, Múcio é irmão da avó de Aécio, Risoleta
Tolentino Neves (1917-2003), que foi casada por 47 anos com Tancredo
Neves (1910-1985).
A pista tem 1 km e condições de receber aeronaves de pequeno e médio
porte, com até 50 passageiros. O local não tem funcionários e sua
operação é considerada irregular pela Anac (Agência Nacional de Aviação
Civil).
A agência federal informou à Folha que ainda não recebeu do governo
estadual todos os documentos necessários para a homologação do
aeroporto, procedimento exigido por lei para que ele seja aberto ao
público.
Sem se identificar como jornalista, o repórter da Folha procurou a
Prefeitura de Cláudio na última semana como uma pessoa interessada em
usar o aeroporto da cidade.
O chefe de gabinete do prefeito, José Vicente de Barros, disse que Múcio
Tolentino deveria ser procurado. "O aeroporto é do Estado, mas fica no
terreno dele", afirmou. "É Múcio quem tem a chave."
Indicado por Barros, Fernando Tolentino logo se prontificou a abrir o
portão do local. "Ele fica dentro da nossa fazenda", disse. "O aeroporto
está no final do processo, mas, para todos os efeitos, ainda é nosso."
Indagado se seria necessário pagar pelo uso do espaço, Fernando
respondeu: "Não, o trem é público, vai cobrar como?" Segundo ele, Aécio
visita a fazenda da família em Cláudio "seis ou sete vezes" por ano e
vai sempre de avião.
Procurado posteriormente pela Folha, ele negou administrar o aeroporto:
"Não tenho nada a ver com isso". Indagado sobre a frequência das visitas
à cidade e o uso do aeroporto, Aécio não respondeu.
Com 30 mil habitantes, Cláudio é rodeada por fazendas. Economicamente,
sua importância é modesta. A vizinha Divinópolis, a 50 km, já tinha
aeroporto quando o de Cláudio foi construído.
A obra foi executada pelo Deop (Departamento de Obras Públicas do
Estado) e fez parte de um programa lançado por Aécio para aumentar o
número de aeroportos de pequeno e médio porte em Minas.
O governo do Estado desapropriou a área de Múcio Tolentino antes da
licitação do aeroporto e até hoje eles discutem na Justiça a
indenização. O Estado fez um depósito judicial de mais de R$ 1 milhão
pelo terreno, mas o tio de Aécio contesta o valor. Seu advogado, Leandro
Gonçalves, não quis falar sobre o caso.
Antes de o aeroporto ser construído, havia no local uma pista de pouso
mais simples, de terra. Ela foi construída em 1983, quando Tancredo era
governador de Minas e Múcio era prefeito de Cláudio, terra natal de
Risoleta.
Orçado em R$ 13,5 milhões, o aeroporto foi feito pela construtora
Vilasa, responsável por outros aeroportos incluídos no programa mineiro.
O custo final da obra, somados aditivos feitos ao contrato original,
foi de R$ 13,9 milhões.
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