sexta-feira, 11 de julho de 2014

Eleição é eleição e Copa é Copa, nada têm a ver

 
 Mal acabou o jogo na terça-feira, com o placar mostrando inacreditáveis 7 a 1 para a Alemanha, alguns coleguinhas da imprensa se apressaram em mostrar serviço no afã de analisar como o desastre da seleção brasileira no Mineirazo vai repercutir na campanha eleitoral e derrubar a recandidatura da presidente Dilma Rousseff.

Foram, como de costume, mais realistas do que o rei. No dia seguinte, terça-feira, líderes tucanos trataram de acalmar a tropa amiga, avisando que não é bem assim. O ex-governador José Serra, por exemplo, agora candidato do PSDB ao Senado, alertou os aliados mais afobados a ter calma nesta hora.

"Eu não sei qual é a tradução política disso. Vamos ver nos próximos dias e semanas. Não vou fazer hipóteses, porque, fatalmente, serão confundidas com desejos", alertou, com muita propriedade, o veterano político de tantas campanhas eleitorais, repetindo o que escrevi no post pós-jogo, sob o título "Só com o tempo poderemos entender esta humilhação".

Na mesma linha, o sempre ponderado governador tucano Geraldo Alckmin, candidato favorito à reeleição, lembrou que uma coisa não tem nada a ver com outra: "Aliás, se você verificar, a última Copa que o Brasil ganhou foi em 2002, era o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso e o PSDB perdeu a eleição. Então, não tem essa relação. Mas todos estamos tristes, porque esperávamos um resultado melhor".

Ainda na véspera da partida fatídica, o ex-presidente FHC, ao criticar "algumas pessoas" que estavam misturando futebol com política, previu que o Brasil poderia ganhar a Copa e Dilma perder a eleição. Tinha toda razão, mas a recíproca, deve-se admitir agora, também é verdadeira.

O Brasil não vai mais ser hexa, a Copa de 2014 termina domingo, no Maracanã, disputada entre Alemanha e Argentina, e na próxima semana começa para valer a campanha eleitoral.

Claro que o bom ou o mau humor dos torcedores e o alto ou baixo astral dos eleitores tem influência na hora de decidir o voto, mas o futebol não é responsável por isso. Em qualquer país e qualquer época, com ou sem Copa, determinante na hora do voto é o estado da economia nacional, ou seja, o bolso dos eleitores.

Que a economia brasileira anda capengante este ano, o que prejudica quem está no governo e ajuda a oposição, todos nós sabemos, não é preciso ser um grande analista político. Não basta, porém, mostrar as dificuldades enfrentadas pelo governo e os erros cometidos. É preciso apresentar propostas novas e concretas sobre o que e como fazer para segurar a inflação e fazer o PIB voltar a crescer, sem subir os juros, simples assim.

Se o governo ficar só mostrando as maravilhas que fez e a oposição esculhambar com tudo, vamos ficar num Fla-Flu estéril, que em nada ajuda o país. Eleição é sempre uma renovação de esperanças e o eleitor quer é saber o que os candidatos têm a dizer sobre os caminhos para o futuro.

Temos menos de três meses até as eleições não só para discutir soluções para a economia, mas também uma reforma política ampla, geral e irrestrita, como foi a anistia, sem o que, nada mudará, qualquer que seja o candidato eleito. Com o atual sistema político-partidário-eleitoral, que está falido faz tempo, o Brasil é simplesmente ingovernável, assim como é inútil trocar o técnico da seleção sem promover uma reforma estrutural profunda na organização do futebol brasileiro.

Ricardo Kotscho


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