Futebol de celebridades custa muito dinheiro
Wanderley Guilherme dos Santos
Ser adepto do capitalismo, mas contra o lucro revela uma das muitas
esquizofrenias ideológicas do liberalismo simplório. O esquerdaloidismo
também tem das suas como ao reivindicar total liberdade de manifestações
e acusar de fascistas todos que discordam de suas opiniões. Resulta daí
a dificuldade de distinguir entre os reclamos que geram progresso das
bandeiras que propõem a sopa dos gatos pardos. Ou, pior, que nem se dão
conta de que, no fundo, a sopa de gatos pardos é um tóxico capitalista.
Depois da derrota no futebol apareceu diagnóstico quase unânime de que
os clubes são os maiores responsáveis pela evasão dos valores ao não
atenderem corretamente às chamadas formações de base. Ora, os analistas
parecem não se dar conta de que jogadores e clubes perderam autonomia ao
serem capturados pela fabulosa máquina de fazer dinheiro que são as
marcas desportivas e seus derivados. Os fantásticos salários pagos aos
atletas e técnicos não são garantidos obviamente pela receita dos jogos,
mas pela penca de anúncios que carregam na camisa, calções, meias e
chuteiras (agora também cuecas entremostradas entre um tempo de jogo e
outro estão sendo promovidas a original espécie de outass, se me
permitem o manco neologismo em inglês). Tais figuras viraram
celebridades, por via da propaganda ou não, e, como tais, tornam-se
escassas. Por isso, caras.
A criação de mitos faz parte do circuito de produção capitalista do
terciário, setor de serviços. Depois de criada, Marilyn Monroe tornou-se
única, assim como Lionel Messi, independente dos talentos reais que
possuam no circuito a que pertencem. Tanto no caso do futebol quanto no
da representação artística o feliz acaso consiste em que os veículos da
propaganda são apaixonados pelo que fazem.
Jogadores, especialmente os verdadeiros craques, são sedentos pela
prática do esporte e se entregam, como eles próprios dizem, de corpo e
alma em cada partida. Por isso a idéia de se vender ao adversário é
profundamente ofensiva aos atletas e são, com efeito, raríssimos os
casos em que tal perversidade ocorre.
Típico negócio em que o investidor, a indústria esportiva e as anexas,
podem contar com a absoluta cooperação e honestidade dos agentes
produtivos.
Não é por falta de atenção dos clubes, mas de dinheiro, que as seleções
de 50, 62 e 70, campeãs, foram constituídas por jogadores em ação nos
clubes brasileiros e na de 2014 só um atleta do time supostamente
efetivo joga no Brasil. Em 40 anos montou-se uma rede produtiva
globalizada que atinge todas as seleções. Em poucas, atualmente, os
principais jogadores atuam em times de seus países de origem. E depois
dos conclaves internacionais lá se vão os craques revelados nas
disputas. Da surpreendente seleção de Costa Rica diz-se que nenhum de
seus jogadores atua no país, e já estão sendo negociados os bons
jogadores da Colômbia, do Chile e até da Argélia. As somas envolvidas em
tais contratos são incrivelmente elevadas e só se tornam inteligíveis
quando se sabe que os times não estão alugando, digamos assim, esses
talentos, mas investindo, como repassadores, os recursos de indústrias
internacionais. O futebol se tornou um negócio de primeira grandeza, tal
como o talento de seus garotos propaganda.
Os atletas, é claro, não são os responsáveis pela marcha do capitalismo
nem, a rigor, ninguém. O capital prosseguirá segundo suas regularidades
enquanto der e já não temos profecias críveis sobre como será o futuro
próximo. Nem se sustenta a ingenuidade de supor que se trata de um
problema de governo ou de suas relações financeiras com os clubes.
Vários deles já são sustentados por conglomerados de empresas que
investem o que lhes parece ter retorno aceitável.
Não é um problema simplório como imaginam liberalóides e esquerdóides.
Nessa competição mercadológica que se desenrola através dos talentos de
rapazes célebres, assim como em outras competições, o tal mercado
propriamente dito é, como em outros, condicionado por grandes interesses
econômicos. Embora cada um continue a torcer por seu time de
preferência, lucros garantidos. É a parte cruel do mundo do dinheiro
envolvida nos prazeres que financia.
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