Do Direto da redação - 05/12/2010
Rui Martins*
O sol batia forte e pela sua testa escorriam gotas de suor, que ele enxugava com o lenço. Alguém lhe passou um boné para protegê-lo do sol e assim continuou sendo abraçado e abraçando, como se um Papai Noel de barbas mais curtas tivesse descido no Itamaraty para um distribuição de presentes.
Ligeiramente distante, eu observava o carinho com que ele retribuía a alegria de todos quantos chegavam perto, pedindo para fazer uma foto ao seu lado, naturalmente para depois colocar num porta-retratos ou num quadro na parede da sala de visitas.
Alguns minutos antes, ele me conseguira emocionar com seu improviso realçando como os pobres de seu país começam a ser mais numerosos que os filhos das classes abastada nas universidades e como os negros conquistarão em breve seu lugar na sociedade como dentistas, médicos, advogados e igualmente como diplomatas no Itamaraty.
Não eram tanto as palavras, seus argumentos, que me emociaram mas sua paixão por essa causa, sua satisfação por ter aberto e já feito um bom caminho pela igualdade social e racial no seu país, pela crescimento economico e pela riqueza que se anunciam destinados a eliminar a pobreza e dar dignidade a todos os cidadãos.
Como num flash, me passou pela cabeça a imagem do menino retirante nordestino, engraxate nas praças Mauá ou dos Andradas, em Santos, nos mesmo lugares onde Esmeraldo Tarquínio fez brilhar sapatos de corretores de café, na rua do Comércio ou proximidades do cais. Quem sabe até perto do Café Carioca, onde meu pai tomava seu cafezinho com seus colegas, enquanto seu Ford V8 aguardava o momento de um transporte para carga ou descarga de navios atracados.
Me aproximei, queria falar alguma coisa que pudesse expressar minha reação diante daquele espetáculo de contato humano, mas não conseguia. Na Europa, os presidentes são protegidos por cordões de isolamento ou por seguranças, nos EUA esses seguranças chegam a ser brutos, mas ali, diante de mim, Lula, o presidente dispensava protetores e se sentia feliz, era tão evidente, por se saber amado por seu povo. E ser amado ao chegar ao fim do mandato não é coisa comum entre presidentes.
De repente, do outro lado da barreira, se ouve a voz de uma palestina, jovem emigrante brasileira que vive no território ocupado e que, dois dias antes, defendia a criação do Estado palestino, ao lado de dois israelenses e um libanês. Lula quer que ela venha até ele – um jornalista emigrante em Israel ajuda a palestina a pular a grade e ela vem ao lado de Lula, que a esperava tendo ao lado outro israelense.
Não sei se a foto já foi publicada nos jornais palestinos e israelenses, mas é uma marcante mensagem de paz de Lula.
Lembrei-me de Lula, no amplo auditório das Nações Unidas, sendo aplaudido de pé por sindicalistas de todo mundo, em standing ovation como se fosse um super-star.
No passado, diziam ser Garrincha a alegria do povo, mas pelo jeito, agora é Lula essa alegria do povo, desse povo que vem retirando da miséria e ao qual vem restituindo a dignidade.
Não acredito em deuses nem em ídolos, mas esse homem carismático, logo ex-presidente, é o melhor presidente que já teve o Brasil.
PS. Nem todos que foram abraçar Lula eram sinceros. Alguns deles fizeram campanha contra Dilma e a foto com Lula, para colocar na sala de visitas ou no Facebook, é pura hipocrisia.
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*Rui Martins. Jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder emigrante, ex-membro eleito no primeiro conselho de emigrantes junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na Suíça. Escreve para o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência.
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