sábado, 11 de dezembro de 2010

Tucano não era santo

O prefeito de Jandira (Grande SP), Walderi Braz Paschoalin (PSDB), 62 anos, morto com tiros de fuzil e de uma arma de 9 mm (pistola semiautomática ou submetralhadora) é citado em seis investigações em andamento no Ministério Público Estadual. A principal delas, iniciada em 2008, investiga se o tucano comprou votos de vereadores para ter as contas de seu segundo mandato aprovadas na Casa. Sem essa condição, ele não poderia ter reassumido o cargo, em 2009.

De acordo com o Ministério Público estadual, o prefeito de Jandira foi alvo de seis investigações pelas promotorias.

Em 2008, a ação investigativa apurou pagamento de vereadores para que modificassem decisão do TCE que rejeitara as contas municipais. Também em 2008 por perdas de cheques da prefeitura. Em 2009 ação sobre atraso em processos judiciais pela secretaria de Negócios Jurídicos em favorecimento a interesses pessoais do prefeito. Nesse ano foram duas ações arquivadas. Uma sobre supostas irregularidades na produção e publicação de jornal pela Secretaria de Educação e apuração de improbidade administrativa com lesão ao erário municipal.

A compra de votos teria ocorrido após o TCE (Tribunal de Contas do Estado) recomendar à Casa a rejeição das contas relativas aos anos de 1999 e 2000. O órgão apontou, na época, irregularidades relacionadas à aplicação dos recursos municipais.

Uma gravação anexa ao inquérito comprovaria o crime. Segundo representantes da Promotoria, o ex-vereador Waldemiro Moreira de Oliveira, morto em julho deste ano, assume, em diálogo com outro vereador da cidade, que recebeu R$ 200 mil do prefeito para votar a favor da aprovação das contas.

A investigação em vias de arquivamento é sobre irregularidade em contratos da prefeitura, ainda do mandato de 2002. E corre no Tribunal de Justiça de São Paulo ação por uso indevido de verba federal do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Maracutaia

Rompida com o prefeito assassinado de Jandira, Braz Paschoalin (PSDB), desde setembro de 2009, a vice, Anabel Sabatine, do mesmo partido, relatou ao Jornal da Tarde que foi procurada pelo tucano na última quarta-feira, dois dias antes da sua morte, para uma reaproximação política, após meses sem se falarem.

“Ele só me chamava de doutora. Naquele dia me chamou de Anabel. Disse que a gente precisava voltar a se falar. A gente se abraçou e ele chorou. Parecia que ele já sabia o que ia acontecer”, contou Anabel, emocionada, em sua residência em Alphaville, na vizinha Barueri.

Novata no meio político, Anabel foi convidada por Braz para ser sua vice por ser mulher e médica, com reconhecida atuação na cidade. Derrotaram o PT e ela foi nomeada secretária da Saúde desde a posse. Meses depois, contudo, rompeu com o prefeito ao se recusar a assinar notas fiscais no valor de R$ 1,5 milhão para a compra de medicamentos superfaturados.A quantia desviada em notas frias passaria de R$1,5 mil. "Queriam que eu assinasse as notas, mas não podia fazer isso se os remédios não estavam na prateleira", disse.

Após sofrer pressão, Anabel pediu demissão da pasta. O caso virou alvo de investigação do Ministério Público Estadual e resultou em uma das dezenas de ações na qual Braz é ou foi réu.

Desde então, Anabel se aproximou de vereadores petistas e passou a ser perseguida politicamente por aliados de Braz. “Ela faz oposição, queria cassar o prefeito”, afirmou o presidente da Câmara Municipal, Wesley Teixeira (PSB), cujo pai, Dorvalino Teixeira, foi assinado em 1983 quando era prefeito. Anabel perdeu o gabinete de vice-prefeita e voltou a se dedicar à carreira de médica.

Agora, mesmo insegura, ela disse que assumirá a prefeitura e concluirá os dois anos de mandato. Entre as primeiras medidas está substituir os secretários e fazer auditoria nas contas da cidade. “Jamais poderia supor que alguém tivesse a ousadia de matar um prefeito. Não era o que a gente queria.”

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