quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

VANTS ISRAELENSES E BRASILEIROS

Israelenses vendem VANT para FAB

Aviação: Aeroeletrônica, controlada pela Elbit, ganha licitação para entrega de duas unidades

Virgínia Silveira

A AEL-Aeroeletrônica, de Porto Alegre, venceu o processo de seleção da Força Aérea Brasileira (FAB), para a aquisição de dois veículos aéreos não tripulados, também conhecidos pela sigla VANT. A Aeroeletrônica é controlada pelo grupo israelense Elbit. O valor do contrato, segundo o diretor do Subdepartamento de Desenvolvimento e Programas da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Augusto Amaral Oliveira, ainda não foi definido, pois a FAB está finalizando a negociação.

Além da Aeroeletrônica, também participaram do processo a BAE Systems, da Inglaterra; Sagem, do grupo francês Safran; e a IAI, de Israel, que entrou no processo junto com a brasileira Flight Solutions. Segundo a FAB, a IAI ficou em segundo lugar.

A Flight Solutions desenvolveu uma família de VANTs para o Exército brasileiro denominada VT-15. O mercado no Brasil, segundo o diretor da Flight, Nei Salis Brasil Neto, ainda está nascendo, mas o setor no mundo deve movimentar negócios da ordem de US$ 8 bilhões até 2016. A América do Sul responde por apenas 2% desse montante, mas Neto acredita que essa realidade tende a mudar com o fortalecimento da indústria de defesa local.

A aquisição dos novos veículos, de acordo com o brigadeiro Amaral, tem como objetivo a consolidação de uma doutrina de utilização de VANTs na FAB, mais adequada às necessidades do sistema de defesa nacional e que também sirva de base para a compra futura de novos veículos.

O Brasil ainda não possui um produto desenvolvido e fabricado no país. O Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), em São José dos Campos, desenvolveu a parte eletrônica de um VANT nacional, envolvendo o seu sistema de navegação e controle. O projeto, que também envolve o Centro Tecnológico do Exército (CTEX), o Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM) e a Avibrás, entrou agora numa segunda fase, relacionada ao desenvolvimento do sistema de decolagem e pouso automático.

Para a primeira fase do projeto nacional, a Finep destinou R$ 9 milhões. "Estamos agora aguardando a liberação de uma verba de R$ 4,5 milhões para dar continuidade ao desenvolvimento", disse o coordenador do projeto no DCTA, Flávio Araripe.

A Avibrás também partiu para o desenvolvimento de um VANT próprio, batizado de Falcão. O veículo foi financiado com recursos da Finep, que destinou R$ 19 milhões para o projeto. O primeiro protótipo, segundo o gerente do projeto na Avibrás, Renato Bastos Tovar, ficará pronto em abril e o primeiro voo está previsto para junho. "A fase de certificação e industrialização exigirá mais R$ 30 milhões em investimentos e temos a expectativa de que a FAB nos considere em um próximo processo de aquisição", disse.

O modelo escolhido pela FAB, um Hermes 450, é fabricado pela Elbit. Duas unidades do Hermes 450 já estão sendo testadas, há um ano, pelas Forças Armadas brasileiras na Base Aérea de Santa Maria (RS), onde fica sediado o Esquadrão de VANT da Aeronáutica. Os VANTs foram cedidos pela Elbit sem custo e estão sendo avaliados em missões de reconhecimento tático e vigilância de fronteira.

Segundo o diretor-executivo da Aeroeletrônica, Vitor Jaime Neves, a empresa está criando um centro de excelência no Brasil e enviou técnicos brasileiros para participar de um programa de desenvolvimento de tecnologias associadas a VANTs nas instalações em Israel.

No contrato que negocia com a FAB, a Aeroeletrônica também terá de cumprir obrigações de offset (compensação) relacionadas à transferência de tecnologia. "Está prevista a transferência de tecnologias de partes das aeronaves para a indústria nacional, além de suporte e apoio técnico por parte da Aeroeletrônica/Elbit", explica o diretor de programas e desenvolvimento da Aeronáutica.

A brasileira Inbra Aerospace, de acordo com Vitor Neves, já pode ser citada como um exemplo concreto de offset relacionado ao Hermes 450. A empresa, segundo ele, já está fabricando partes da asa do veículo em material composto.

O executivo da Aeroeletrônica também não descarta a possibilidade de futuras parcerias com a Embraer na área de VANTs. As duas empresas já trabalham juntas nos programas de modernização dos caças AMX e F-5 da FAB.

"A área de VANTs é um dos focos que estamos olhando dentro da nova estrutura de segurança e defesa criada pela Embraer, mas ainda não sabemos se faremos um produto em parceria com outra empresa ou se partiremos para um desenvolvimento próprio", comenta o diretor-presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado.

Segundo Curado, a Embraer vem fazendo prospecções nessa área há algum tempo, mas qualquer decisão de parceria estratégica para atendimento das necessidades nacionais será feita em conjunto com o governo brasileiro.

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