sábado, 10 de agosto de 2013

TUCANÍSSIMA, VEJA RASGA FANTASIA NO CASO SIEMENS

Se ainda havia alguma dúvida sobre o engajamento político da revista Veja, ele desaparece por completo na edição desta semana; reportagem "O acerto que saiu dos trilhos" é capaz de gastar papel e tinta com o caso Siemens praticamente sem mencionar políticos tucanos e sem publicar nenhuma foto; sobra até para um petista, o ex-presidente Itaipu, Jorge Samek, que teria pedido favores para perdoar uma dívida da multinacional alemã; nada sobre Geraldo Alckmin, Mario Covas, Robson Marinho (acusado de receber propinas de US$ 20 milhões) ou Andrea Matarazzo, também indiciado pela Polícia Federal; na única citação a políticos, José Serra e José Roberto Arruda, Veja afirma que os dois aparecem "em situações não comprometedoras"; uma reportagem vergonhosa, que não traz de nada de novo sobre o caso Siemens, mas revela a natureza partidária de Veja
10 DE AGOSTO DE 2013 
247 - Em grave crise financeira, a Editora Abril, que vem cortando títulos e demitindo profissionais, acaba de atirar de vez sua credibilidade no lixo. Numa reportagem vergonhosa, sobre o caso Siemens, a revista Veja é capaz de dedicar seis páginas ao escândalo que movimenta o debate político no Brasil como se ele ocorresse na lua ou em outro planeta – e não em São Paulo, onde fica a sede da editora.
Para quem ainda tinha alguma dúvida sobre o engajamento político da casa editorial dos Civita, Veja rasgou de vez a fantasia. É tucana, ou melhor, tucaníssima. E prova, com seu texto, que o cientista político André Singer tem toda a razão, ao falar sobre grupos sociais que articulam o debate contra a corrupção no Brasil. "Terão a mesma energia ou o ímpeto revelado irá esmorecer, agora que são outros os personagens na berlinda?", indaga na Folha (leia mais aqui).
Assinada pela jornalista Laura Diniz, com reportagem de Bianca Alvarenga e Pieter Zalis, o texto conta a história da Siemens e explica o que é cartel, como se os leitores estivessem interessados em biografias empresariais ou aulas de teoria econômica. "A isso se dá o nome de cartel, crime no qual um grupo de empresas se une para lotear o mercado e combinar preços, de forma a atropelar a livre concorrência e aumentar seus ganhos, já que, em seus acordos secretos, nunca decidem fixar os preços para baixo".
Ilustrada de forma asséptica, a reportagem não tem fotos de personagens, contrariando o padrão gráfico da própria Veja. Onde estão as fotos de Geraldo Alckmin, José Serra ou Mario Covas? Nada. Ou então de Robson Marinho e Andrea Matarazzo, acusados de receber propinas da Alstom, outra empresa partícipe do esquema? Também nada. Ou quem sabe de José Luiz Portella, o Portelinha, homem de confiança do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, citado num email da Siemens como articulador de um acordo que envolveria também José Serra?(leia aqui) O gato comeu.
Sem tucanos na mira, Veja conseguiu até a proeza de disparar contra um petista em sua leitura sobre o caso Siemens, ao resgatar uma história contra Jorge Samek, diretor-geral de Itaipu. Ele teria sido acusado de cobrar US$ 6 milhões para perdoar uma dívida da multinacional alemã.
Lá pelo finalzinho do texto, o leitor descobre, enfim, o nome de dois políticos. "Nos milhares de documentos e e-mails apreendidos, aparecem apenas os nomes de dois políticos, os ex-governadores José Serra (PSDB-SP) e José Roberto Arruda (DEM-DF). Os dois são apenas citados – e em situações não comprometedoras", diz a revista. Ah, bom...
A reportagem de Veja é histórica não pelo que traz de novo sobre o caso Siemens – de onde menos se espera, é que não sai nada mesmo, como diria o Barão de Itararé. Ela ficará marcada como um exemplo da natureza perversa da própria imprensa brasileira.
Veja tem lado. A Editora Abril tem lado. E isso ficou explícito e absolutamente escancarado neste fim de semana. O grande problema, para a democracia brasileira, é que empresta seu poder de fogo para manipular e pressionar instituições públicas, como a procuradoria-geral da República e o Supremo Tribunal Federal, sempre em defesa de seus próprios interesses políticos e comerciais.
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