Saída sem adeus
O silêncio da maioria dos ministros sobre a renúncia e a sessão final de Joaquim Barbosa se autoexplicam
A maneira como Joaquim Barbosa encerrou sua participação no Supremo
Tribunal Federal, saindo no decorrer da sessão e sem que houvesse a
formalidade de despedida dos colegas e de advogados, não se deveu só
--se é que se deveu em alguma medida-- a peculiaridades psicológicas ou
outras do ex-ministro. Foi uma decorrência do ambiente de convívio
difícil no Supremo, pontuado por frequentes exposições de hostilidade,
no qual Joaquim Barbosa figurou como centro gerador.
Alguma coisa desse ambiente foi exibida ao país em certos momentos
televisados do julgamento do mensalão, nas eventualidades em que o
relator Joaquim Barbosa se viu confrontado por discordâncias. Situações,
quase todas, com o ministro Ricardo Lewandowski como alvo.
Mas, na vida não exposta do Supremo, as dificuldades e impossibilidades
de convívio --mesmo o convívio meramente profissional-- não estiveram
restritas aos dois ministros, nem começaram nas sessões sobre o
mensalão. À altura deste julgamento, já vinham de longe.
A respeito bastará lembrar a renúncia, ainda antes de entrada a ação
470, da ministra Ellen Gracie, também ex-presidente do tribunal. Entre
os motivos de sua decisão, se não foi o único, esteve a inaceitação das
circunstâncias internas do Supremo que, mesmo sem o seu envolvimento
direto, lhe pareciam intoleráveis. Discreta, Ellen Gracie nunca fez, de
público, sequer insinuação sobre qualquer aspecto do tribunal, nem da
sua decisão de retirar-se. Uma renúncia inesperada e inexplicada já é,
no entanto, uma sugestão.
O silêncio da maioria dos ministros sobre a renúncia e a sessão final de
Joaquim Barbosa se autoexplicam. Ainda assim, houve quem quisesse
falar. Marco Aurélio Mello: "Vossa Excelência [Ricardo Lewandowski] vai
assumir a presidência do Poder Judiciário. (...) Precisamos resgatar os
valores quanto a essa mesma chefia. (...) Precisamos voltar ao padrão
anterior, (...) que deve ser também o das instituições brasileiras. E
esse padrão foi arranhado na última gestão".
Gilmar Mendes, sobre Joaquim Barbosa e o julgamento do mensalão: "Foi um
julgamento muito difícil, muito tumultuado. (...) Tudo contribuiu para
certa agitação, assim como o temperamento do ministro Joaquim Barbosa".
Joaquim Barbosa, já do lado de fora, enquanto a sessão continuava no
tribunal, repetiu as insinuações, vagas, mas identificáveis, de
motivações ímprobas dos ministros que dele discordam. Mas, como disse
para quem quiser crer, sai de "alma leve".
Ao que se pode supor, assim ficará, também, o ambiente no Supremo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário