Bye, Bye Aécio Neves
Choque
de indigestão. Nada como um dia depois do outro. Antes de deixar o
cargo de governador, nosso impoluto Aécio presenteou a própria família
com um aeroporto
no interior de Minas Gerais, na cidade de Cláudio. Deu de presente é
modo de dizer. A conta, R$ 14 milhões, foi espetada novamente no lombo
do contribuinte. Tudo dinheiro público.
Ricardo Melo - Folha de SP - 21/07/2014
"Os equívocos em relação à Petrobras foram muitos. E taí. Hoje a empresa
frequenta mais as páginas policiais [...] do que as páginas de
economia." As palavras são do candidato tucano Aécio Neves em sabatina
realizada na quarta (16), ao criticar o governo Dilma Rousseff.
Nada como um dia depois do outro. Graças ao repórter Lucas Ferraz,
ficamos sabendo neste domingo (20) que, antes de deixar o cargo de
governador, nosso impoluto Aécio presenteou a própria família com um
aeroporto no interior de Minas Gerais, na cidade de Cláudio. Deu de
presente é modo de dizer. A conta, R$ 14 milhões, foi espetada novamente
no lombo do contribuinte. Tudo dinheiro público.
O Brasil conhece à exaustão obras e estradas construídas perto de
propriedades de políticos, sempre sob o argumento de pretensos
interesses rodoviários e sociais. Cinismo à parte, para não dar muito na
vista, ao menos se permite a circulação de anônimos pelas rodovias.
No caso do aeroporto de Cláudio dispensaram-se maiores escrúpulos.
"Choque de gestão" na veia. A pista é de uso praticamente privado da
família Neves e seus apaniguados. Um diálogo esclarecedor: perguntado
pelo repórter se alguém poderia usar o aeroporto, o chefe de gabinete da
prefeitura local foi direto. "O aeroporto é do Estado, mas fica no
terreno dele. É Múcio que tem a chave." O dele e o Múcio citados
referem-se a Múcio Tolentino, tio-avô de Aécio e ex-prefeito do
município. Pela reportagem, descobre-se ainda que Aécio é figura
frequente no lugar — a cidade abriga um de seus refúgios favoritos.
Pego no escândalo, o candidato embaraçou-se todo. Alega que a área do
aeródromo particular foi desapropriada. O que, vamos e venhamos, já é
discutível: no mínimo não pega bem um governador indenizar sua própria
família para uma obra de utilidade social mais do que duvidosa.
Mas a coisa só piora: o processo de desapropriação está em litígio, ou
seja, a propriedade permanece sob controle do clã Neves & Cia.
Talvez uma ou outra aeronave de conhecidos, ou algum Perrella da vida,
tenha acesso à pista. Fora isso, ignoram-se benefícios econômicos
gerados pela empreitada ao povo mineiro. Questionado pela reportagem
sobre quantas vezes esteve no estacionamento aéreo familiar e o motivo
pelo qual uma obra custeada com dinheiro público tem uso privado, Aécio
não respondeu. Ou melhor: o silêncio equivale a uma resposta. E a
campanha mal começou."
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