21/06/2013
Leandro Forte no Facebook
A dignidade e o objetivo inicial do movimento, cujo foco era baixar o preço do transporte público em São Paulo, catalisou um certo desespero social que, em boa medida, só se transformou nessa catarse social depois que a PM de São Paulo barbarizou com manifestantes e jornalistas. Mas, agora, isso já era.
Um outro contingente, violento e ameaçador, descobriu nas manifestações dos últimos dias uma maneira de expurgar seus próprios demônios na base do grito, da pedrada e da destruição.
Assim, passamos a nos acostumar a ver pela televisão um evento em dois atos: a passeata pacífica, multicultural e de reivindicações difusas (na quinta-feira, dia 20, em São Paulo, um grupo protestava contra a alta de preços das rações para cães); e a barbárie de manifestantes que, no fundo, não querem se manifestar sobre nada. Querem se vingar da sociedade, da polícia, do chefe, do vizinho, da vidinha de merda que levam, na base da porrada.
Essa circunstância diz respeito a todos nós, cidadãos e governos.
Parecia ser muito bonito ir para a rua e incentivar manifestações de massa sem nenhum objetivo real, um fenômeno novo e ainda difícil de ser dimensionado. Mas, sabemos, agora, não é. Longe de ser uma manifestação popular, no sentido da presença do povo propriamente dito, essa corrida para as ruas tornou-se um movimento contra a política, sob a fachada de ser contrário ao partidarismo. Assim, criou-se a ideia de que se manifestar é fazer um piquenique cívico, quase uma opção de lazer para as famílias de classe média e pais separados levarem as crianças para brincar de democracia.
Certa de que poderia se apropriar da alma das manifestações, a direita brasileira fez uma rápida correção de rumo, logo no início do processo, de modo a transformar em vigilantes da liberdade aqueles que, quando sob fogo cerrado da PM de São Paulo, eram tratados como vagabundos, desordeiros, vândalos, desocupados e terroristas a soldo do comunismo internacional. Pedir por 20 centavos não era só inaceitável, era o prenúncio do reino da baderna. Choveram, então, editoriais nos jornalões a pedir mais e maior repressão policial.
Calcada, como de costume, na doença infantil do antipetismo, coube à mídia fazer essa migração na maior cara de pau, mas de modo organizado e disciplinado, instrumentalizado por uma cobertura ostensiva de flashes e plantões ao vivo. Do alto de prédios, com repórteres postados como atiradores de elite, e de helicópteros prateados, a TV Globo assumiu a tarefa de comandante em chefe dessa missão. Era uma oportunidade de ouro de inserir na pauta dos manifestantes a agenda da oposição, fomentar um “fora Dilma” e, é claro, usar o coringa do “mensalão”. Em pouco tempo, as emissoras coirmãs se adaptaram direitinho ao discurso global: as manifestações são shows de democracia prejudicados por minorias radicais.
Ocorre que, além dos arruaceiros e marginais que destroem prédios e botam fogo em lixeiras, também os partidos políticos – e a política em si – passaram a ser tratados como minorias radicais. Dessa forma, passou-se a achar normal, quando não recomendável, expulsar militantes partidários da democrática reunião cívica das ruas na base da pancada e da paulada na cabeça, se preciso for.
Agora, chegou-se ao ponto de que ninguém mais sabe o que fazer. As pessoas de boa-fé e os patriotas de coração estão se vendo na contingência de servir de escada para sociopatas com pedras nas mãos.
A mídia, acostumada a se aliar ao tom suave das passeatas pela paz na Zona Sul do Rio, começa a perceber que talvez tenha virado a casaca cedo demais.
A dignidade e o objetivo inicial do movimento, cujo foco era baixar o preço do transporte público em São Paulo, catalisou um certo desespero social que, em boa medida, só se transformou nessa catarse social depois que a PM de São Paulo barbarizou com manifestantes e jornalistas. Mas, agora, isso já era.
Um outro contingente, violento e ameaçador, descobriu nas manifestações dos últimos dias uma maneira de expurgar seus próprios demônios na base do grito, da pedrada e da destruição.
Assim, passamos a nos acostumar a ver pela televisão um evento em dois atos: a passeata pacífica, multicultural e de reivindicações difusas (na quinta-feira, dia 20, em São Paulo, um grupo protestava contra a alta de preços das rações para cães); e a barbárie de manifestantes que, no fundo, não querem se manifestar sobre nada. Querem se vingar da sociedade, da polícia, do chefe, do vizinho, da vidinha de merda que levam, na base da porrada.
Essa circunstância diz respeito a todos nós, cidadãos e governos.
Parecia ser muito bonito ir para a rua e incentivar manifestações de massa sem nenhum objetivo real, um fenômeno novo e ainda difícil de ser dimensionado. Mas, sabemos, agora, não é. Longe de ser uma manifestação popular, no sentido da presença do povo propriamente dito, essa corrida para as ruas tornou-se um movimento contra a política, sob a fachada de ser contrário ao partidarismo. Assim, criou-se a ideia de que se manifestar é fazer um piquenique cívico, quase uma opção de lazer para as famílias de classe média e pais separados levarem as crianças para brincar de democracia.
Certa de que poderia se apropriar da alma das manifestações, a direita brasileira fez uma rápida correção de rumo, logo no início do processo, de modo a transformar em vigilantes da liberdade aqueles que, quando sob fogo cerrado da PM de São Paulo, eram tratados como vagabundos, desordeiros, vândalos, desocupados e terroristas a soldo do comunismo internacional. Pedir por 20 centavos não era só inaceitável, era o prenúncio do reino da baderna. Choveram, então, editoriais nos jornalões a pedir mais e maior repressão policial.
Calcada, como de costume, na doença infantil do antipetismo, coube à mídia fazer essa migração na maior cara de pau, mas de modo organizado e disciplinado, instrumentalizado por uma cobertura ostensiva de flashes e plantões ao vivo. Do alto de prédios, com repórteres postados como atiradores de elite, e de helicópteros prateados, a TV Globo assumiu a tarefa de comandante em chefe dessa missão. Era uma oportunidade de ouro de inserir na pauta dos manifestantes a agenda da oposição, fomentar um “fora Dilma” e, é claro, usar o coringa do “mensalão”. Em pouco tempo, as emissoras coirmãs se adaptaram direitinho ao discurso global: as manifestações são shows de democracia prejudicados por minorias radicais.
Ocorre que, além dos arruaceiros e marginais que destroem prédios e botam fogo em lixeiras, também os partidos políticos – e a política em si – passaram a ser tratados como minorias radicais. Dessa forma, passou-se a achar normal, quando não recomendável, expulsar militantes partidários da democrática reunião cívica das ruas na base da pancada e da paulada na cabeça, se preciso for.
Agora, chegou-se ao ponto de que ninguém mais sabe o que fazer. As pessoas de boa-fé e os patriotas de coração estão se vendo na contingência de servir de escada para sociopatas com pedras nas mãos.
A mídia, acostumada a se aliar ao tom suave das passeatas pela paz na Zona Sul do Rio, começa a perceber que talvez tenha virado a casaca cedo demais.
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