Da Carta Maior - 20/06/2013
O campo ideológico estava polarizado entre a
prioridade do social – encarnada pelo governo – e o antiestatismo –
protagonizado pela oposição. Que o Brasil havia mudado, e para melhor,
era um dado consensual. O governo buscando aprofundar e estender as
políticas sociais, a oposição denunciando que o estatismo é o obstáculo
para o Brasil avançar.
Valendo-se das mobilizações das últimas semanas, a direita trata de impor outra visão, mais radical ainda: a de que nada de importante passou no Brasil, que só agora a população “desperta” e que é preciso se opor “a tudo o que está aí”. Mais radical porque desconhece todos os avanços no combate à desigualdade, à miséria e à pobreza logrados na última década. Tenta fazer tabula rasa e apagar tudo o que os governos do Lula e da Dilma conseguiram.
Só assim é possível a segunda parte da visão: opor-se “a tudo o que está aí”. Neste caso, esse “tudo” se resume ao governo, somando a ele o Congresso. Se absolvem os bancos, os monopólios midiáticos, as grandes corporações econômicas, entre outros, que seriam os beneficiários de uma derrota de “tudo o que está aí”.
Se esse consenso chega a se impor – e ele tem uma massa de jovens mobilizados e sensíveis para impô-lo, multiplicado pela ação da mídia –, se apagariam os avanços da última década e se concentraria o fogo no governo como o “velho” que bloqueia o avanço do país.
Nas acusações sobre os gastos da Copa – desde a suspeita de corrupção até o desvio de recursos de setores vitais –, mais além de que o governo tem argumentos contra – como se viu no discurso da Dilma –, o fracasso da política de comunicação fez com que o governo sofresse uma imensa derrota. É como se esses argumentos fossem já um consenso na opinião pública e na juventude em particular.
Essa visão busca invisibilizar o povo – os trabalhadores, os sem terra, todas as camadas populares beneficiadas pelas políticas governamentais –, reivindicando-se para eles a representação do Brasil, com o argumento forte de que eles são os jovens.
Está em disputa assim o consenso geral no país, a partir de uma nova ofensiva ideológica da direita, agora se valendo dos jovens e da sua disposição espontânea de atacar “o poder, a corrupção”, “isso tudo que está aí”.
Se o governo não mudar políticas fundamentais, a começar pela de comunicações – que falhou estrepitosamente – e desenvolver políticas sobre temas tão caros à juventude – como a ecologia, o aborto, a descriminalização das drogas, a internet –, criando canais de contato e discussão permanente com os jovens, vai ter muita dificuldade para recuperar sua imagem, valorizar o que foi feito e executar seus planos de futuro.
Emir Sader. Sociólogo e cientista político.
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