Nos próximos dias, grandes jornais e seus colunistas explorarão o
tema ao máximo, para tentar provar que estão certos em suas críticas
contra o governo Dilma; no entanto, o público presente no Mané Garrincha
não era exatamente um retrato do povo brasileiro; ali, havia pessoas
que se dispuseram a pagar R$ 280 pela entrada e outros tantos que
receberam convites de patrocinadores e parceiros da festa; vaia começou
contra Joseph Blatter, da Fifa, e depois atingiu a presidente por
tabela, menos como retrato de alguma indignação social e mais como
expressão de irreverência e até de falta de educação.
Brasil 247
- Manchete da Folha de S. Paulo: "Estreia do Brasil tem vaia a Dilma,
feridos e presos". Manchete do Globo: "Torneio começa com vaias a Dilma e
vitória da seleção". Nos próximos dias, a vaia contra a presidente
Dilma Rousseff, ouvida no Estádio Nacional Mané Garrincha, ainda deverá
ecoar nas colunas políticas e econômicas. Quer um palpite? Este será o
tema de Ricardo Noblat, nesta segunda-feira, no Globo.
Mas será que ela tem realmente algum significado político? Nenhum.
Quem esteve no Estádio Nacional Mané Garrincha neste sábado pôde se dar
conta de que a vaia contra Dilma foi quase acidental. Ela começou quando
os alto-falantes anunciaram a presença do presidente da Fifa, Joseph
Blatter. Dilma foi anunciada na sequência, pegando carona nas vaias a
Blatter - que também eram inadequadas. Diante do barulho, ela pronunciou
apenas uma frase: "Declaro oficialmente aberta a Copa das
Confederações". Blatter lamentou o incidente e pediu "fair play" ao povo
brasileiro, quando foi novamente vaiado.
No Uol, Josias de Souza foi o primeiro colunista a comentar as vaias e
sugeriu que a torcida talvez estivesse repleta de "Velhos do Restelo",
ironizando a presidente Dilma:
O Brasil, para ficar como Dilma Rousseff deseja, precisa trocar de
torcida. Essa que compareceu ao Estádio Mané Garrincha, em Brasília, é
inteiramente inadequada. Uma legião de Velhos do Restelo. Vindo da
Suíça, terra onde o leite já sai das vacas pasteurizado, o companheiro
Joseph Blatter, da Fifa, ralhou: “Onde está o respeito, onde está o fair
play?”. As vaias aumentaram.
Mas quem estava realmente no Mané Garrincha? Não exatamente um retrato
do povo brasileiro. Ali havia dois tipos de torcedores. Os que se
dispuseram a pagar R$ 280 por uma entrada e aqueles que foram convidados
por patrocinadores ou parceiros da festa, que adquiriram ingressos
junto à Fifa e os distribuíram a convidados vip. Em ambos os casos,
representantes da elite.
Não exatamente o povo que se incomoda com a chamada inflação dos alimentos ou a alta de vinte centavos nas passagens de ônibus.
A despeito da vaia, quem foi o Mané Garrincha também se deu conta de
que, pela primeira vez, o Brasil dispõe de equipamentos esportivos
comparáveis aos do invejado Primeiro Mundo. A arena de Brasília nada
deve aos melhores estádios do mundo - e, em muitos aspectos, os supera. O
trabalho dos voluntários, que demonstraram extrema cortesia, foi também
exemplar.
Quem foi ao estádio também pôde presenciar o renascimento da seleção
brasileira e saiu com a certeza de que, aos poucos, o técnico Luiz
Felipe Scolari, o Felipão, faz brotar um time que tem tudo para ser
vencedor.
Além disso, a chegada e a saída do estádio foram tranquilas, salvo um
pequeno incidente com manifestantes que protestavam contra a realização
da Copa, provando que Brasília, com seus espaços amplos, talvez seja a
melhor sede da Copa e a mais adequada até para a abertura em 2014.
Numa festa grandiosa, não só pela seleção, mas pela própria estreia
bem-sucedida da arena e de uma das principais sedes, a vaia foi apenas
um "ponto fora da curva", para usar uma expressão em voga atualmente.
Foi o retrato da irreverência, da deselegância e até da falta de educação de boa parte da elite brasileira.
Paciência. Brasília deu a primeira demonstração de que, em 2014, o
Brasil realizará uma das melhores Copas do Mundo de todos os tempos. E
com uma equipe à altura.
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