A investigação sobre prática de cartel no metrô e na CPTM poderá ser
como uma bomba de efeito fragmentário para o PSDB. Ainda não vieram à
tona os personagens políticos que intermediavam os negócios com os
“consultores” e as empresas cartelizadas.
Um escândalo monumental, que faria do PT uma terra arrasada, todavia não
atormenta a vida dos tucanos. Porque eles contam com a complacência da
sua mídia conservadora.
O Ministério Público paulista investiga a suspeita de prática de cartel
em obras e manutenção da CPTM [Cia Paulista de Trens Metropolitanos] e
do metrô de SP. São 45 inquéritos [uma metáfora com o número eleitoral
do PSDB] em andamento desde 2008 para investigar crimes de improbidade
administrativa e de lesão ao patrimônio público que ocorriam desde 1998.
Perpassam, portanto, todas as gestões tucanas no Estado.
As investigações implicam gigantes transnacionais – a alemã Siemens, a
francesa Alstom, a canadense Bombardier, as espanholas Temoinsa e CAF e a
japonesa Mitsui.
Conforme indica o MP paulista, o esquema seguiu a cinematografia
clássica da corrupção: contava com pelo menos duas empresas off-shores* - Gantown Consulting e Leraway Consulting - sediadas no Uruguai em nome dos “consultores” Artur Teixeira e Sérgio Teixeira.
As off-shores tinham contratos assinados com a matriz alemã e a filial
brasileira da Siemens para a assessoria nas ofertas e na obtenção de
contratos de peças e serviços para a CPTM, recebendo uma comissão entre 3
e 5% sobre o valor das “vendas”.
Segundo levantamento da bancada do PT na Assembléia Legislativa de SP,
os contratos de obras e manutenção de trens e metrôs firmados nas
gestões do PSDB nas últimas duas décadas podem ultrapassar 30 bilhões de
reais - equivalente ao PIB do Senegal.
O MP divulgou indícios da prática de cartel pelas transnacionais, que se
coordenavam na distribuição de lotes e na fixação de preços
superfaturados nas licitações fraudadas da CPTM. Um esquema organizado
de pilhagem do erário; uma articulação para repartir entre si o lucro
ilegal num negócio multibilionário.
A publicidade desse escândalo reforça o vínculo do PSDB com práticas
nebulosas quando exerce governos. Antes dessas revelações, muito se
conhecia sobre outros negócios obscuros de governos tucanos, como as
privatizações do patrimônio público [“privataria tucana”] e o chamado
“mensalão mineiro”. Fica a impressão no ar de que, para eles, governar é
uma oportunidade para fazer negócios multimilionários.
A omissão da mídia durante esses anos todos que o MP investiga o caso é
tão escabrosa quanto o próprio escândalo. É uma omissão de proporções
monumentais como esse monumental escândalo. Nunca foi dada a repercussão
devida sobre os inquéritos, os fatos e as investigações, apesar da
relevância das operações envolvidas. Enfim, tudo acobertado.
Esse episódio poderá ser como uma bomba de efeito fragmentário para o
PSDB. Ainda não vieram à tona os personagens políticos que intermediavam
os negócios com os “consultores” e as empresas cartelizadas. Quando
vierem, poderão causar efeitos muito mais graves que os sofridos pelo PT
com o chamado “mensalão” – invento tucano desgraçadamente repetido por
alguns petistas.
*Nota
Off-shore é, na verdade, uma conta
bancária ou empresa aberta em paraísos fiscais com objetivos nada
nobres: ou [1] para fugir de tributação no país de origem do seu
proprietário, ou [2] para ocultar a origem ilegal do dinheiro
depositado, que pode ser originário do narcotráfico, tráfico de armas,
corrupção, evasão fiscal, fraude tributária, etc.
Jeferson Miola, Carta MaiorNo PIG
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