terça-feira, 11 de junho de 2013

De Cristina para Dilma e o rolo compressor da imprensa de mercado

Do Palavra Livre  11/06/2013


Por Davis Sena Filho

Eu vou repetir o que já afirmei mais de uma vez: Tenho inveja da Argentina. E explico por quê. A presidenta trabalhista herdeira política do ex-presidente Néstor Kirchner, além de ter enfrentado com coragem a imprensa de direita e de negócios privados, sancionou em 2012 o projeto que trata da criação da Lei das Mídias, que é o marco regulatório para as diversas mídias — os meios de comunicação —, que, sem serem regulamentados (não confunda com censura), conforme acontece com os principais segmentos de atividade econômica, teimam em desestabilizar governos trabalhistas legitimamente eleitos pelos povos da América do Sul ao tempo que, no decorrer da história, derrubados por golpes de estado promovidos pelos empresários, com o apoio bélico e político dos militares, que assumiram ilegalmente o poder em vários países da América Latina.


Por isto e por causa disto sinto inveja da Argentina, porque há muito tempo os governos trabalhistas de Lula e agora o de Dilma Rousseff deveriam ter se esforçado para efetivar o marco regulatório para os meios de comunicação, como acontece, inclusive, nos países desenvolvidos tão admirados por nossas “elites” colonizadas. Países que, apesar da regulamentação, enfrentam problemas com esse segmento empresarial dos meios de comunicação, que faz do seu negócio uma arma para desestabilizar governos e moer reputações, sem, no entanto, quando erra ou comete crimes não responde a ninguém, porque geralmente têm a cumplicidade de setores politicamente conservadores, a exemplo do Poder Judiciário, notadamente o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Procuradoria Geral da Repúbica, que, equivocadamente, tomam partido e escolhem lado, como no caso do “mensalão” do PT, evidentemente, que no decorrer do tempo vai ficar notório como o mentirão.


O poder midiático tem lado, ideologia, escolhe os partidos para apoiar e candidatos, geralmente do espectro conservador, de direita e não mede consequências para conseguir seus intentos, que são controlar a publicidade oficial e manter o sistema político e econômico que transforma as concessões públicas dos meios de comunicação do Governo, ou seja, do cidadão contribuinte, em concessões privadas, cujos principais concessionários, que são os barões da imprensa, combatem, historicamente, os governos trabalhistas e boicotam suas realizações ao ponto de a população brasileira não ter acesso às informações concernentes às obras de infraestrutura do País, às conquistas sociais, como o Bolsa Família (o maior programa de inclusão do mundo), o ProUni, o Enem, o Luz para Todos, os PACs 1 e 2, que fizeram com que o Brasil praticamente não sentisse a crise econômica de 2008, as carteiras de crédito para as micro, pequenas e médias empresas, além da criação de empregos, que superou os 15 milhões de postos de trabalho em apenas oito anos, bem como livrou da pobreza extrema 33 milhões de brasileiros.


Além disso, os governos trabalhistas incluíram 40 milhões de brasileiros na classe média (C), responsável maior pelo crescimento exponencial do mercado interno deste País, que movimentou a economia brasileira e assim garantiu milhões de empregos. Eu quero dizer que esses novos cidadãos consumidores foram os principais responsáveis pelo círculo virtuoso da economia brasileira, porque se tornaram mais importantes do que a classe média tradicional e os ricos, no que é relativo a fortalecer o mercado interno do Brasil. Setores econômicos de siderurgia, automobilístico, indústria naval, petrolífero e de eletroeletrônicos foram recuperados ou incrementados e, consequentemente, tiveram um crescimento a taxas elevadíssimas, o que fez com que a economia nacional fosse descentralizada, realidade esta que permitiu a redução das desigualdades regionais, o que acarretou a diminuição da migração de nordestinos e sulistas, que passaram a ficar em suas terras e nelas a trabalhar e, por conseguinte, cooperar para o desenvolvimento de seus estados e de suas regiões.


Todos esses fatos e realidades nunca ganharam destaque na imprensa corporativa e privada, que conservadora e golpista passou a atacar, sistematicamente, o Governo Federal administrado pelos trabalhistas. Ataques de conotações políticas incessantes, diários, com o propósito de paralisar o governo trabalhista, com a mesma tática realizada no passado, por intermédio do discurso moralista e lacerdista de corrupção e desordem, exaustivamente usado contra os governantes mais importantes que o Brasil até então tivera, que são as lideranças políticas exemplificadas nas figuras de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Luiz Inácio Lula da Silva e o governador Leonel Brizola, que não foi presidente da República, mas era um político de grandeza nacional e internacional. Dilma Rousseff ainda não experimentou o amargor e a violência de uma oposição direitista e midiática como presidenta da República, apesar de seu passado de lutas, da prisão e do flagelo da tortura. Contudo, ela é o alvo, como o é também o trabalhista Lula, o político brasileiro mais importante da atualidade em termos internacionais, para o desgosto dos reacionários.
  

A imprensa é — repito pela milionésima vez — importante e fundamental para a democracia e a liberdade de um povo e de uma nação. Ela tem de ser livre, tem de publicar, tem de denunciar e investigar. Entretanto, tem de ser democrática e republicana e voltada também para os interesses da coletividade e não apenas dedicada aos seus interesses empresariais, partidários e políticos. A imprensa de mercado tem de fazer jornalismo dessa forma e assim democratizar a informação ao cidadão, ao invés de monopolizá-la e, por sua vez, aproveitar-se desse poder para manipulá-la, a fim de obter vantagens econômicas e políticas, bem como fazer oposição partidária, o que é um equívoco e grave erro.  Ouvir todos os agentes sociais e não apenas o indivíduo ou o grupo ou a instituição privada ou pública, que se tornaram cúmplices de seus interesses. Ouvir a todos é obrigação intransferível, para que se consiga fazer um jornalismo de qualidade e com credibilidade, o que não é caso da imprensa alienígena e de propósitos inconfessáveis. O caso do ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, é um exemplo sólido e inquestionável. O ministro caiu sem, no entanto, ter a oportunidade de ser ouvido, acusado que foi por um homem considerado criminoso, que foi preso, que responde a processos e é acusado até de assassinato.


Além do mais e até hoje, nada foi provado contra o Orlando Silva, que é apenas um caso dentre muitos outros. Nada foi gravado com a voz do mandatário, bem como ele se dispôs a enfrentar esse processo draconiano promovido pela imprensa corporativa controlada por apenas meia dúzia de famílias, de tradição golpista, que se beneficiaram, pois se acumpliciaram com a ditadura militar. Orlando Silva solicitou à Corregedoria do Ministério e à Policia Federal que investigassem as denúncias contra ele. Não satisfeito, foi à televisão se explicar para a Nação, além de ter ido ao Congresso, onde foi atacado por um deputado medíocre, como o é Antônio Magalhães Neto, o ACM Neto, atual prefeito de Salvador, coronel político, oligarca da Bahia e herdeiro do ex-senador e governador Antônio Carlos Magalhães, um dos principais protagonistas políticos da ditadura militar. O ministro colocou seu sigilo bancário, fiscal e telefônico à disposição da Justiça e da autoridade policial federal, o que não foi suficiente para o governo Dilma Rousseff, porque o ministro caiu, o que é um absurdo, ainda mais quando se trata de um processo promovido por uma imprensa comercial e privada, que atua e age, se for necessário, no submundo do crime como cúmplice e não pela força do jornalismo investigativo, a exemplo do caso notório de Época, Veja, bicheiro Carlinhos Cachoeira e governo tucano de Goiás.


Observo uma certa tibieza e receio do atual governo petista perante a imprensa e ao poder midiático. Dilma Rousseff e seu grupo político que governa o Brasil têm de enfrentar os barões da imprensa. Esses megaempresários estão insatisfeitos com o governo porque, antes de tudo, eles são de direita, além de fundamentalistas ideológicos e por isso detestam o trabalhismo e os políticos trabalhistas. A outra questão importante e que deixou inconformado e furioso o “baronato” midiático é que seus grupos empresariais sofreram diminuições em suas verbas publicitárias no Governo Lula, que pulverizou tais recursos entre as empresas de pequeno e médio portes em todo o Brasil. Realmente, esse importante fato e ação política deixou os barões da imprensa nativa furiosos. A presidenta Dilma Rousseff tem de seguir os passos da presidenta Cristina Kirchner, que aprovou a Ley dos Medios, que é nada mais do que a regulamentação do setor midiático. A regulamentação não é censura e um atentado às liberdades de imprensa e de expressão, como querem fazer parecer e crer os jornalistas contratados pelos barões da imprensa para defender os seus interesses e, consequentemente, confundir a população e a opinião pública.


Não se pode tergiversar com a imprensa privada e corporativa. Ela não gosta dos trabalhistas e não têm compromisso com o Brasil e o seu povo. A presidenta Dilma Rousseff deveria, em minha opinião, incumbir o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, de rapidamente efetivar o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que tem a finalidade de disseminar e expandir a internet e através dela democratizar a informação. A partir desse processo de libertação, evidentemente que haverá a diminuição do poder exagerado e ditatorial da imprensa de negócios privados, que é useira e vezeira em boicotar os programas de governos, ainda mais quando eles são nacionalistas e determinados a atender os interesses do povo brasileiro.

A imprensa burguesa se nega a pensar o Brasil e por isso o sabota, o boicota e não o mostra, de fato, para o povo brasileiro. O povo não vê a revolução que está a acontecer neste País, até porque a Assessoria de Comunicação (Ascom) da Presidência da República, chefiada pela jornalista Helena Chagas, põe panos quentes quando se trata da imprensa comercial e privada, não rebate as críticas quando açodadas e injustas contra o governo trabalhista, bem como, tal qual aos barões da imprensa, não mostra o que está acontecer de bom no Brasil. Helena Chagas é filha da imprensa entreguista e golpista, pois sua origem é o útero das seis famílias que controlam os meios de comunicação privados no Brasil. Não sei, realmente, o que se passa na cabeça da presidenta Dilma Rousseff quando olha para a jornalista Helena Chagas e para o ministro Paulo Bernardo, que colocou em alguma gaveta empoeirada do Ministério das Comunicações o projeto de marco regulatório das mídias cuidadosamente elaborado pelo jornalista Franklin Martins, além de “esquecer” que a Constituição de 1988 dispõe sobre esse assunto, que é a regulamentação.


Todavia, a questão considerada por mim a mais importante deixo para o fim deste artigo. A presidenta Dilma Rousseff não pode temer a imprensa. A mandatária foi eleita para defender e efetivar o seu programa de governo e projeto de País, que não é somente dela, do PT, de seus aliados e de grupos, mas, sobretudo, de seus eleitores, e, evidentemente, do conjunto da sociedade. Dilma, seus ministros e a Ascom de Helena Chagas, a meu ver, têm de responder, sistematicamente e eloquentemente, às acusações, às denúncias quando infundadas, inconsequentes ou sem provas na televisão aberta e em horário nobre.

O propósito dessa estratégia é rebater acusações injustas e até mesmo justas, no sentido de dar satisfação ao povo brasileiro, bem como tirar suas dúvidas quanto à honorabilidade, à honestidade e à dedicação do governo em relação à coisa e à causa pública. Vale lembrar que centenas e quiçá milhares de acusações, denúncias, ilações e maledicências não deram em nada, pois não foram provadas e comprovadas, sendo que muitas delas não passaram de ações e atos de oposição orquestrados e montados nas principais redações de imprensa deste País e levados a cabo por jornalistas que são cúmplices e agentes do jogo político de seus patrões.


Além disso, a televisão e a rádio públicas têm de receber mais recursos, tornar-se mais presente na sociedade brasileira e abranger todo o território nacional, não com o intuito de defender governos, mas para mostrar o trabalho, por exemplo, de infraestrutura que está a ser realizado, porque a imprensa privada e alienígena não mostra nada do que está a acontecer em prol do desenvolvimento do Brasil e de seu povo. A imprensa de mercado se transformou em uma máquina de criar escândalos, de forma contínua, sem se importar com a veracidade dos fatos, porque seus proprietários sabem que seu setor não é regulamentado e por isto alheio à lei. Criam ou superdimensionam os “casos” com a finalidade de sangrar a quem esses empresários combatem e fazem oposição.

Os políticos, os governantes trabalhistas e socialistas não podem continuar em uma condição de caça, à mercê dos ditames da imprensa golpista. No poder, os políticos do campo progressista têm ferramentas para agilizar e implementar os marcos regulatórios para os meios de comunicação. Afinal, eles têm autoridade, pois foram eleitos. A verdade é que todos os setores da economia possuem os seus marcos, e os empresários de mídias e seus jornalistas não fazem parte de um mundo paralelo, e, por seu turno, acima das leis. Podem acreditar nisso.  Cristina Kirchner agiu exatamente dessa maneira.

Dilma Rousseff também deveria agir assim. Quem brinca com fogo se queima. Quem alimenta leão com vara curta fica sem o braço. Eu estou com inveja da Argentina e da Cristina Kirchner. Ministro Paulo Bernardo, cadê a Confecom II? E a banda larga? E o marco regulatório das mídias? Jornalista Helena Chagas quando você vai mostrar o Brasil e rebater denúncias, acusações e manipulações injustas, infundadas e até mesmo criminosas contra o governo trabalhista? Eu falo das injustas, pois as justas, Helena Chagas, são investigadas e, por seu turno, denunciadas e julgadas. Governantes trabalhistas não podem ficar à mercê de uma imprensa golpista. A imprensa corporativa é o rolo compressor do mercado. 
É isso aí.
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