domingo, 16 de junho de 2013

Dilma sabe o que faz e o que diz


Em entrevista ao jornalista Luís Nassif, a presidente garante que no segundo semestre o país testemunhará o deslanche das concessões e parcerias público-privadas; presidente transpareceu segurança e informou ter alertado alguns ministros mais suscetíveis sobre a importância de se dar atenção às críticas fundamentadas
A presidente Dilma Rousseff, apontada como favorita na corrida para a Presidência de 2014, demonstra segurança e autocontrole sobre as críticas que atingem sua gestão. Em entrevista ao jornalista Luís Nassif, ela diz que prepara o país para algo muito maior do que sua gestão. 


Leia:
O novo país

Que país a senhora pretende que nossa geração entregue para a de nossos netos?
Está vindo por aí uma nova geração totalmente diferente, que encontrará um país totalmente diferente do que nossa geração recebeu. Nós vamos transformar o Brasil em um país rico, de classe média. Pessoalmente acho que essa herança ficará não apenas eliminando a pobreza, mas conseguindo uma educação de altíssima qualidade. Só a educação permite um ganho permanente, irreversível. Por isso defendo os royalties para educação.

Qual a próximo ciclo da economia?
A etapa do combate à miséria absoluta está prestes a terminar. Hoje em dia, existe o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o apoio ao microempreendedor, o Luz Para Todos. Essa foi a primeira grande leva de transformações e só tem dez anos. Os frutos ainda nem começaram a aparecer. A segunda grande leva será a busca da competitividade.
E as frentes da próxima batalha?
A principal é a Educação, que serve ao lado social e à competitividade. Há um amplo investimento no Prouni (Programa Universidade para Todos), no FIES (Financiamento Estudantil), na ampliação das escolas técnicas, de universidades e novos campis. E na interiorização da educação. Levar a educação para o interior muda padrão de vida de toda uma região.
Os analistas ainda não se deram conta da extensão do trabalho em educação. Financiamos R$ 1,5 bilhões para o Senai ampliar a formação de mão de obra. A Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) da CNI (Confederação Nacional da Indústria) irá formar 8 milhões de trabalhadores até 2014. O MEC (Ministério da Educação) está entrando com recursos para formação de técnico para nível médio.
A parte relevante é o treinamento de mão de obra com vários escalões, até chegar à Tereza Campello (do Ministério do Desenvolvimento Social). Há várias turmas de filhos do Bolsa Família se formando. Já chegam a um milhão de alunos.

Essa mesma parceria do Senai estamos fazendo com o Senar (da Agricultura) e com o Senac (do Comércio). O Senai e o Senar são os parceiros mais ativos.
O mais interessante é a quantidade de mulheres que saem do Bolsa Família e se tornam operárias especializadas. Na cerimônia de formação dos alunos do BF, a oradora da turma era uma moça que se tornou eletricista.
Os marcos regulatórios
E a outra frente?
A segunda frente são os novos marcos regulatórios. No período Lula houve o marco do setor elétrico. Depois, o pre-sal. Como se sabia onde havia petróleo, com risco menor de prospecção, mudou-se a exploração para o sistema de partilha, para o país beneficiar-se o máximo possível da nova riqueza.
E a Lei dos Portos?
O marco regulatório dos portos é fundamental. No lançamento afirmei que seria a segunda abertura dos portos. A primeira, de Dom João VI, foi para o comércio com as nações amigas. A segunda, agora, é a abertura para o investimento privado. Há a necessidade de um padrão de eficiência compatível com a sofisticação industrial, agrícola e a extração de minérios.
No caso dos portos, ampliar os terminais de uso privado, deixar quem quiser exportar através de container, sem reserva de mercado, e ampliar a capacidade de comunicação do país com o exterior.
Na sequencia, o desafio será priorizar a cabotagem (navegação da costa).
Um de nossos principais atos foi o de desobstruir a infraestrutura. Todo mundo tem o direito de passar. Para não penalizar quem faz a infra, quem quiser passar paga o mesmo que o concessionária cobra de si próprio.
A expansão dos portos abrirá um novo mundo, permitindo a integração com ferrovias, com o transporte aquaviário.
Hoje em dia, temos condições de planejar estrutura ferroviária, porque os portos são importantes, porque rodovias estão sendo duplicadas. Eisenhower, quando assume governo norte-americano, duplicou todas as estradas. Chefiou as Forças Aliadas na Segunda Guerra. Planejou atravessar a França para chegar e Berlim em determinado prazo. O planejamento fio em cima da experiência antiga com as estradas francesas, estreitas. Quando entrou nas autobans, a chegada em Berlim foi abreviada. Aí ele entendeu a importância das autoestradas. Levou 15 anos para duplicar as estradas norte-americanas. Nós duplicamos os principais eixos.
O salto agrícola
Resolve-se, com isso, o problema do transporte das safras?
Ninguém notou muito, mas lançamos recentemente uma política fundamental, a de armazenagem. Precisamos de 65 milhões de toneladas de capacidade instalada de armazéns. No último Plano de Safras, foram destinados R$ 136 bilhões para a agricultura comercial e R$ 21 bi para a familiar. Foram colocados R$ 5,5 bilhões, a 3% ao ano de juros e prazos de 15 anos, para a ampliação da rede de armazéns.
Ao mesmo tempo, será recriada uma estrutura de assistência técnica e extensão rural.
A Embrapa é uma instituição voltada para a pesquisa. A nova organização será voltada para a assistência técnica, como agência de difusão de tecnologia. Será enxuta e seu papel consistirá em articular consultorias privadas para atuar em duas áreas prioritárias: agricultura de precisão e produção de hortifrutigranjeiros em áreas protegidas (estufas), além de pesquisas em biotecnologia, nas áreas de DNA, pecuária leiteira.
O campo de Libra
E a licitação do campo de Libra?
Ainda não caiu a ficha geral sobre a próxima licitação do pré-sal, em 22 de outubro. Será licitado apenas um campo, o de Libra. Dentro da política da ANP (Agência Nacional de Petróleo), a Petrobras foi contratada para furar um poço. Fez a prospecção e constatou, inicialmente, uma capacidade potencial de 5 bilhões de barris equivalente de petróleo. Depois, pegaram os mapas de sísmica em 3D e enviaram para análises em Londres. Os últimos dados apontam para uma capacidade de 8 a 12 bilhões de bpe. É algo em torno de 2/3 do total das reservas brasileiras descobertas em toda sua história.
As análises iniciais indicam um preço bastante competitivo, na faixa de 40 dólares o barril. O gás de xisto dos Estados Unidos, tão falado, não sairá por menos de 80 dólares.
Recentemente fizemos em Porto Alegre um seminário sobre a indústria naval e houve relatos entusiasmados sobre os avanços no setor.
Você não sabe a satisfação que é quando se percebe que um objetivo foi alcançado. Lembro-me que em 2003 o presidente Lula me chamou e disse que o Brasil já tinha sido um dos maiores produtores de navio nos anos 70. E que queria que voltasse a ser. Fui com a Graça Foster, titular de uma das secretarias do Ministério, até um estaleiro abandonado.
Era um areal imenso, a perder de vista, sem nada em cima. As pessoas caçoavam, diziam que seria impossível o Brasil construir navios, que estava muito acima da nossa capacidade. Ora, construir navios é a capacidade de transportar chapas e de soldar. Como, impossível?
Hoje, quando volto aos mesmos lugares, vemos guindastes gigantescos, o estado da arte, equipamentos sofisticados. E com o campo de Libra, vai ser um salto ainda maior. Haverá uma demanda gigantesca por equipamentos, de 14 a 17 plataformas, exigindo acelerar substancialmente a indústria naval.
Porque concessões e investimentos demoram tanto a deslanchar?
O país paga um preço de 20 anos com austeridade fiscal e baixa projeção econômica e de investimento. Ninguém passa imune por isso.
As consequências foram a hipertrofia das estruturas de fiscalização em detrimento da execução. O funcionalismo fiscal tornou-se importante; o de execução perdeu status e incentivo. Esse fenômeno espalhou-se pelo setor privado, com os engenheiros de produção cedendo lugar aos engenheiros voltados para a área financeira e de gestão. Desapareceram as grandes empresas de consultoria de engenharia.
O planejamento de longo prazo retornou ao país em 2007, com o primeiro PAC (Plano de Aceleração do Crescimento). Ninguém mais fazia projetos, nem a União, nem os estados nem a iniciativa privada estavam preparados para enfrentar o desafio.
De lá para cá houve expressiva mudança qualitativa. Hoje em dia União, estados e iniciativa privada estão mais aparelhados, as empresas de projetos são bem melhores, com impacto no ritmo das obras. Houve modificações nos sistemas de contratação, reduzindo  o tempo, melhoria na capacidade de planejar.
Quando as concessões deslancharão?

Na segunda metade do ano, haverá um festival de licitações. Serão licitados 7.500 km de rodovias, aeroportos, ferrovias, o poço de Libra, gás em terra, armazéns, linhas de transmissão e geração e o TAV (Trem de Alta Velocidade). Os empresários internacionais já acordaram para isso.
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Também do Blog O TERROR DO NORDESTE.

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