Darcy Ribeiro contava uma história sobre um debate entre líderes do
Japão, no pós-guerra, quando tratavam de reconstruir o país. Um deles
perguntou aos presentes:
- Nós temos petróleo?
- Não, responderam todos.
- Temos ferro, ouro, minérios?
- Não.
- Temos, ao menos, muita terra agricultável?
- Claro que não!
Então, o que nós temos em grande quantidade, para fazer esse país ser
grande sem uma expansão colonial, que não é mais possível depois da
guerra?
- ????
- Japoneses, nós temos milhões, dezenas de milhões de japoneses!
E a história me veio à mente quando, outro dia, ouvi um relato sobre um
jantar de empresários, onde estava presente o egípcio Tarek Farahat,
que se tornou notícia por conduzir a multinacional Procter & Gamble a
seu melhor desempenho na história brasileira, competindo com a gigante
americana Unilever na área de produtos de limpeza, beleza e higiene
pessoal.
Em meio ao chororô habitual com as dificuldades da economia, recheado
com citações dos “analistas” econômicos, o egípcio – que já foi
promovido à vice-presidente da multi para a América Latina – saiu-se com
esta:
- Eu não vendo PIB!
E diante da perplexidade dos circunstantes, completou:
- Eu vendo gilete, sabonete, sabão para roupas, creme de barbear, desodorante… E isso está vendendo muito bem!
Farahat elevou a empresa adaptando os produtos às possibilidades e
desejos de consumo da imensa massa de brasileiros que, nos últimos anos,
tornou-se consumidora. Investiu em vendas e fez a empresa crescer. A P
& G construiu duas fábricas e dois centros de distribuição,
dobrou o número de funcionários e já está contratando para uma
terceira planta industrial, em Seropédica, próximo ao Rio.
As receitas da empresa no Brasil cresceram 32% em 2011 e 20% em 2012,
em dólar, contra um crescimento global de 3% em valor e 2% em volume.
Isso, quando nossa imprensa alardeava dois anos de “pibinho”. E anuncia
que irá lançar nada menos que 200 produtos ou versões de produtos este
ano.
O egípcio realmente parecia estar falando grego para nossa
“inteligência” econômica, que prefere, mesmo quando o Governo reduz
impostos e estimula o consumo, culpar o Estado por sua incompetência
empresarial.
Impostos e encargos são pesados, sim, e muito, mais para os pequenos e
os que têm de enfrentar a concorrência dos importados, com o dólar
subvalorizado.
Veja como falam do “custo” do trabalhador e de seus direitos e compare
com o valor que salários e encargos representam em seu faturamento,
como a desoneração da folha trabalhista que está em curso mostrou:
entre 1 e 2% do total, na grande maioria dos setores!
Os grandes investidores do mundo não estão nem aí para Miriam Leitão e
seus colegas de catastrofismo econômico. Sabem que o Brasil e o povo
brasileiro são uma imensa força econômica que, quando se livra da
exclusão social, representa um dos maiores potenciais do mundo.
Somos o destino de mais de 40% do investimento estrangeiro na América
Latina e o ritmo das inversões de capital no Brasil segue alto faz
tempo. Não que as multis sejam “boazinhas”, porque, dos lucros, remetem
às matrizes mais do que reinvestem aqui (55% a 45%, segundo a Cepal).
Tirar o Estado da economia não é apenas entregar nossas riquezas ao
capital estrangeiro: é condenar o Brasil ao atraso, onde uma elite
cercada de grades e muros teria a ilusão de estar numa ilha paradisíaca,
enquanto arde a sua volta o inferno da miséria e da exclusão.
Fernando BritoNo Tijolaço
Nenhum comentário:
Postar um comentário