Não é o povo que sai às ruas, é a classe média.
É e sempre foi…
Em 1968, foram os jovens de classe média
que ocuparam a Cinelândia, no Rio de Janeiro, na passeata do estudante
Edson Luís, morto no restaurante Calabouço. A primeira manifestação,
depois vieram todas as outras.
Foram aqueles jovens da classe média que
correram das patas dos cavalos, defenderam-se como puderam dos tanques
dos déspotas, foram torturados nas masmorras da truculência e morreram
em nome de nossa Democracia.
Depois vieram as passeatas das Diretas
Já, dos Caras Pintadas e tantas outras, sempre tendo a juventude classe
média como combustível da locomotiva que leva às ruas as multidões.
O hoje não difere do passado.
Os jovens estão nas ruas. Os jovens precisam das ruas. A juventude quer as ruas.
Não à toa Caetano Veloso cantou que “a Praça Castro Alves é do povo como o céu é do avião”. Ou que o próprio Castro Alves, muito antes, disse “A praça é do povo! como o céu é do condor”
Não à toa Caetano Veloso cantou que “a Praça Castro Alves é do povo como o céu é do avião”. Ou que o próprio Castro Alves, muito antes, disse “A praça é do povo! como o céu é do condor”
Os jovens querem as ruas. Não só aqui e agora, mas em toda a parte e ontem, na 1968 de Cohn-Bendit, em Paris, dos Edson Luíses, na Cinelândia.
Os jovens querem gritar o que lhes
aperta o peito, o grito da sua idade. E querem uma causa. A de agora nos
é apresentada pela mídia como “a causa dos 20 centavos”. Mas sabemos
que é muito mais do que isso.
Esses moços sem ilusões gritam contra a
insegurança em casa e fora dela; contra o sistema de saúde capenga, o
público e o dos planos de saúde, que oprime a classe média lhe negando
vagas, tratamentos e cirurgias, obrigando-a a longas esperas e filas,
como se os usuários fossem pedintes e não pagantes; protestam contra os
aluguéis extorsivos e inviáveis ao bolso do assalariado; contra o show
de horrores da corrupção, corroendo todos os poderes, e não é de hoje.
Gritam contra as altas mensalidades
escolares que obrigam a classe média a, para educar seus filhos,
recorrer a um ensino público da pior qualidade; contra universidades sem
verbas, sem reformas, sem equipamentos, em que os professores ganham
salários vis e, por isso mesmo, não podem ser sequer um espectro do que
foram os grandes mestres do passado.
Esses jovens da classe média se sentem
maltratados. Ouvem boas notícias do governo, porque há muitas para serem
dadas, realmente há – nosso país retomou seu desenvolvimento e
encontrou uma forma mais justa de distribuir sua renda – mas esses
resultados parecem não afetá-los.
Posicionada numa camada do meio, onde
não é alcançada por benefícios que contemplam os mais pobres, situados
abaixo dela, e incentivos que impulsionam o setor produtivo empresarial,
colocados acima, a classe média protesta, entre outras coisas, porque
se sente esquecida, relegada aos telefonistas do telemarketing.
Classe média entregue às gravações
impessoais e sem rosto das prestadoras de serviços públicos e privados,
que não lhes solucionam os problemas e a desrespeitam repetidamente, sob
o beneplácito das agências reguladoras, criadas para defendê-la, porém
solenemente ignoram sua angústia multiplicadora de AVCs e infartos do
miocárdio.
Daí que, quando os jovens da classe
média levantam a “bandeira dos 20 centavos”, mesmo sem andar de ônibus,
como alguns já disseram, eles dão muitos gritos.
Gritam nas ruas pelos que não gritam, não querem gritar, não têm tempo, têm é pressa para chegar em casa, jantar e ver a novela.
Gritam nas ruas pelos que não gritam, não querem gritar, não têm tempo, têm é pressa para chegar em casa, jantar e ver a novela.
Em 1969, espremido dentro dos ônibus
lotados, o povão olhava com estranheza aqueles jovens da classe média
sobraçando livros serem espancados pela polícia, enquanto berravam
ensanguentados “pelo povo e abaixo a ditadura!”.
Mas o povo dos ônibus tinha pressa para
ir dormir, descansar do dia puxado de trabalho. Pressa pra ir buscar ou
levar os filhos na escola. Pressa pra fazer seu curso noturno e, com o
diploma, ter um salário melhor. Pressa pra tirar os sapatos, esticar as
pernas. Pressa pra uma chuveirada, mesmo fria.
Passadas cinco décadas, nosso povo
continua com pressa pra conseguir lugar na barca. Pra chegar à estação
do trem, à rodoviária. Pressa pra fazer a baldeação de dois, três
ônibus, até seu ponto final. Pressa para botar a cabeça no travesseiro,
pois há sempre o dia seguinte.
O povo tem pressa da pressa. Os jovens
têm pressa das ruas. A polícia tem pressa de bater. Os partidos
políticos têm pressa de ganhar eleição. E quem tem pressa de defender o
Brasil?
Quem tem pressa de dar a esses jovens de 2013 uma bandeira de que o Brasil necessita com urgência? A bandeira do patriotismo!
Coragem de mostrar aos jovens as
vísceras da realidade brasileira, oculta sob os panos cirúrgicos de uma
vergonhosa operação lambança, a dos leilões petrolíferos da margem
equatorial brasileira, roubando a estes mesmos jovens o seu futuro?
Aquele futuro brilhante prometido na campanha eleitoral?
A Agência Nacional de Petróleo acaba de vender um bilhete premiado às empresas petrolíferas estrangeiras e todos se calaram.
Perplexos, assistimos em maio passado
como que a um grande conluio entre as classes dominantes em todas as
esferas – Executivo, Legislativo, Judiciário, grande mídia – parecendo
compactuarem com o que, aos tempos de FHC, disse o primeiro diretor
geral da ANP a uma plateia de empresários top: “O petróleo é vosso!”.
É fundamental levar a essa juventude
inquieta das ruas a realidade desses leilões de entrega do patrimônio
nacional às multinacionais, sem compensação ao povo brasileiro, um crime
de lesa-pátria, um escárnio, um escarro na Soberania Nacional.
Pressa, temos pressa para que seja
cumprida a promessa de campanha da candidata Dilma: “O pré-sal é o nosso
passaporte para o futuro”.
No entanto, passadas as eleições e às
vésperas de uma próxima, vemos chocados a retomada dos leilões,
inclusive das áreas regidas pela Lei 9478/97, aquela que dá todo o
petróleo a quem o produz e, para a União, apenas a suave obrigação de
pagar módicos, inexpressivos, 10% de royalties, em dinheiro!
Migalhas atiradas da mesa da Casa Grande (os grandes grupos multinacionais) aos da senzala de sempre (nós).
Jovens das ruas, o Brasil precisa
desesperadamente do protesto indignado de vocês contra o desprezo por
uma questão estratégica para o País!
A corajosa juventude brasileira precisa,
com pressa, fazer sua voz alçar voo, junto com o condor de Castro
Alves, e bradar que a Petrobras não precisa leiloar nada, pois já
descobriu mais de 54 bilhões de barris no pré-sal, que, somados à
reserva anterior de 14 bilhões de barris, nos dão uma auto suficiência
para mais de 50 anos.
Por que, então, essa teimosia em realizar os leilões? Por que essa pressa?
Por que, então, essa teimosia em realizar os leilões? Por que essa pressa?
Vemos hoje estrangulamentos sucessivos e
ilegais na Petrobras, obrigando a empresa a importar derivados por
preços menores do que é obrigada a vender no país.
Mas não obrigam as concorrentes multinacionais a fazerem o mesmo.
Vemos abrirem o caminho para o cartel
internacional atuar em bloco e se beneficiar da eventual impossibilidade
da Petrobras participar dos leilões. No da margem equatorial, foi pífia
a participação da petrolífera brasileira, enquanto os compradores
estrangeiros saíram deles de pança cheia e palitando os dentes (nada
temos contra os investidores internacionais, mas não queremos ser
explorados).
No caso do pré-sal, é previsto na nova
lei 12351/10 que o vencedor do leilão é aquele que der maior percentual
do lucro para a União.
Se a Petrobras não participar, o cartel
poderá ganhar blocos com uma oferta irrisória do percentual do lucro, o
que anularia o esforço do Governo Lula para neutralizar o estrago que a
Lei 9478/97 tem feito ao País.
A última novidade foi a Receita Federal
desengavetar esta semana um processo tentando impedir a Petrobras de
participar dos próximos leilões do pré-sal. Se alguém chamar de complô,
não estranharemos.
Jovens das ruas, aí está uma causa
fundamental! Uma causa que definirá o seu futuro. Bandeira costurada na
medida da sua energia à flor da pele, à flor de seu grito e de seu
coração aberto: modulem a voz, engrossem o grito, deem à sua luta maior
potência e tônus!
Afinal de contas: era ou não era o petróleo que iria garantir a nossa educação?
Já somos assaltados indefesos, nas ruas e dentro de casa.
Vamos reagir contra o pior de todos os
assaltos: aquele contra a nossa possibilidade de independência,
cidadania, prosperidade e futuro!
Vamos defender nossos interesses. O interesse do povo brasileiro.
Ser patriota não está fora de moda.
Ainda está valendo. Esse papo de globalização é só pra nós. Nos países
deles todos se ufanam da Nação que têm.
Vamos dar o nosso grito do Resgate Patriótico!
Se
não abrirmos o olho e levantarmos nossa voz, o Brasil, mesmo com todo o
seu petróleo do pré-sal, continuará senzala do mundo, curvando a cabeça
e recebendo as migalhas da “Casa Grande” dos países poderosos
Não custa lembrar e até declamar o poema épico do ‘poeta dos escravos’ Castro Alves,cujos versos do século 19 vêm a calhar neste 21
Ao Povo o Poder
“A praça é do povo! como o céu é do condor”.
É o antro onde a liberdade
cria águias em seu calor.
Senhor, pois quereis a praça?
Desgraçada a população!
Só tem a rua de seu…
Ninguém vos rouba os castelos,
Tendes palácios tão belos…
Deixai a terra ao Anteu.
Mas embalde… que o direito
Não é pasto de punhal
Nem a patas de cavalo
Se faz um crime legal…
Ah! não há muitos setembros!
Da plebe doem-se os membros
No chicote do poder,
E o momento é malfadado
Quando o povo ensanguentado
Diz: já não posso sofrer.
“A praça é do povo! como o céu é do condor”.
É o antro onde a liberdade
cria águias em seu calor.
Senhor, pois quereis a praça?
Desgraçada a população!
Só tem a rua de seu…
Ninguém vos rouba os castelos,
Tendes palácios tão belos…
Deixai a terra ao Anteu.
Mas embalde… que o direito
Não é pasto de punhal
Nem a patas de cavalo
Se faz um crime legal…
Ah! não há muitos setembros!
Da plebe doem-se os membros
No chicote do poder,
E o momento é malfadado
Quando o povo ensanguentado
Diz: já não posso sofrer.
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