O ator atribuiu sua doença a essa prática, como revelou ao jornal inglês The Guardian — e há uma epidemia silenciosa.
Numa entrevista ao jornal The Guardian, o ator Michael Douglas foi
instado a falar se se arrependia de anos de bebida e fumo — que se
acreditava serem a causa de seu tumor na garganta. ”Não. Porque esse
câncer em particular foi por obra do cunnilingus”, respondeu.
Até recentemente, os principais culpados para o câncer de garganta eram
o cigarro (ou charuto) e o álcool. Entretanto, nos últimos anos, vem
se descobrindo que uma epidemia silenciosa – a do HPV – também causa
esse tipo de câncer. O Papiloma Vírus Humano, um vírus de história
relativamente recente e normalmente relacionado basicamente apenas ao
câncer de colo de útero, ainda tem muito mistério ao seu redor. Sabe-se
que é contraído principalmente por via sexual – mas também não se
descarta a possibilidade de contaminação por outras vias, como contato
da pele ou até mesmo areia da praia.
Existem diversos subtipos de HPV. Os mais perigosos são o 16 e 18 – os
causadores de câncer, efetivamente. Os subtipos 30 e 33 são
moderadamente perigosos, mas causam apenas verrugas – genitais ou de
mucosa. Uma pessoa pode ter diversos subtipos – e, quanto maior a
promiscuidade sexual, maiores as chances.
Mas o HPV não fica restrito somente aos órgãos sexuais; virtualmente,
qualquer mucosa infectada pelo HPV pode desenvolver câncer – e, no caso
do Michael Douglas, foi a mucosa da garganta. Há discussões se o HPV
efetivamente causa câncer, ou se ele é apenas uma “infeliz
coincidência”; entretanto, já existem inúmeros estudos demonstrando
passo a passo como ele leva ao desenvolvimento de câncer de colo de
útero ao longo dos anos, e não há por que especular que seja apenas
coincidência.
Dados do Medscape sobre câncer de garganta nos EUA de 2004 a 2008
mostram 9356 casos anuais em homens, sendo 5900 relacionados ao HPV e
5600 destes relacionados aos subtipos 16 e 18. No caso de mulheres, são
2370 casos anuais no total, sendo 1500 relacionados ao HPV e 1400
destes, aos 16 e 18. Os casos restantes se relacionam a outros fatores
de risco, como cigarro (que se associa à infecção por HPV para torná-la
mais perigosa), álcool e síndromes genéticas.
Por que a infecção é mais frequente em homens do que em mulheres? Do
ponto de vista de outros fatores de risco, ainda reflete o achado de
décadas atrás, de que homens bebiam e fumavam mais do que mulheres. Nas
próximas décadas, a tendência é que se equilibre a incidência.
Por outro lado, com relação ao HPV, é notável que a quantidade de vírus
na mucosa feminina, que é muito maior e muito mais úmida, é muito
superior à masculina – para se alojar no pênis, o HPV fica no espaço
entre a glande e o prepúcio. Desta forma, a possibilidade de aquisição e
transmissão do vírus é menor em homens e baixíssima em circuncidados.
Ironicamente, portanto, os homens acabam, infelizmente, tornando-se
mais infectados na garganta – devido ao sexo oral, como já bem disse
Michael Douglas. Casos de órgãos genitais femininos (vulva, vagina, colo
de útero e ânus) ultrapassam os 19 mil anuais; casos de pênis ficam ao
redor de mil anuais, e anais, ao redor de 1600. Virtualmente, aos 25
anos, 90% da população já tiveram contato com este vírus e estão
sujeitos ao desenvolvimento de verrugas ou cânceres. No entanto,
calcula-se que em relacionamentos estáveis, monogâmicos, quanto mais
jovem a pessoa, mais o organismo combate a infecção, e a chance de
desenvolvimento de câncer é muito menor.
Mas há outras formas de prevenção. Foram desenvolvidas vacinas para
combater os vírus – contra os subtipos 16, 18, 30 e 33. No Brasil, já
está disponível no sistema particular; no sistema público, espera-se que
em breve entre no programa nacional de imunização. Contudo, até que
isto ocorra, o uso do tradicional preservativo ainda é essencial – para
todo tipo de relação, oral, vaginal ou anal.
* * *
Um comentário:
Olha isto é coisa séria, tive um amigo que se contaminou no Nordeste do Brasil. Era jovem, não tratou a tempo, sua morte foi horrível.
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