Os três principais jornais do país, aqueles que em grande medida estabelecem a agenda nacional, estão sintonizados no uso da estratégia de alimentar o fantasma da inflação
e da estagnação do crescimento econômico, temas que ocupam um lugar
destacado no discurso político do presidenciável oposicionista Aécio
Neves.
Não há nada de anormal no fato do possível candidato do PSDB situar o país a beira do caos porque essa é uma tradicional contrapartida ao fato de o Palácio do Planalto invariavelmente carregar no otimismo em matéria de economia. O que preocupa, como muito bem mostrou o colega Luciano Martins Costa, é o fato de os três jornais adotarem a linha do “quanto pior melhor”, porque isso implica dois possíveis desenlaces: ou o pior acontece e voltamos ao passado, ou o pessimismo se dilui e o descrédito na imprensa aumenta mais ainda.
A grande imprensa brasileira está fazendo uma aposta muito perigosa
tanto para o país como para ela própria. Os indicadores econômicos são
preocupantes, não tanto pela situação interna, mas pela conjuntura
internacional que, gostando ou não, determina muito do que acontece aqui
dentro. Por mais que o governo diga o contrário, o Brasil não é uma ilha na economia mundial e obviamente sofre os efeitos da recessão mundial.
Os grandes jornais estão cansados de saber disso, mas por razões que
ainda não estão claras preferem ampliar a percepção de disparada
inflacionária e de estagnação do PIB. O comportamento dos consumidores
está sujeito a fatores emocionais que por sua vez determinam
condicionamentos econômicos com óbvios reflexos políticos. Não é
fortuito o fato de quase todas as grandes manobras de desestabilização política de governos começarem invariavelmente pela desestabilização econômica.
Estamos entrando numa conjuntura pré-eleitoral e como sempre acontece
nessas circunstâncias os partidos adotam a tradicional estratégia do fim
justificando os meios. Também aqui não há nada de novo porque essa
mesma situação se repete monotonamente a cada eleição. O que preocupa é
que a imprensa prefira deixar de lado os conhecimentos e a experiência
que adquiriu ao longo dos anos em coberturas eleitorais para
envolver-se num jogo perigoso e de consequências imprevisíveis.
Num quadro internacional incerto e sujeito a mudanças bruscas, apostar
na inflação significa alimentar a dúvida e insegurança entre os
consumidores e produtores. Na dúvida, os primeiros tenderão a estocar para prevenir-se contra o pior
enquanto os comerciantes, prestadores de serviços, indústrias e
agricultura aumentarão os preços para evitar prejuízos futuros
irrecuperáveis. Todos os brasileiros com 30 anos ou mais sabem no que
isso vai dar.
A coincidência, intencional ou não, na ênfase dada ao fantasma da inflação e da estagnação econômica coloca a imprensa sob suspeita de participação
num esquema politico-eleitoral, num momento em que os principais
jornais do país precisam é se preocupar com a crise do seu modelo de
negócios. A solução desse problema não virá com benesses estatais, seja
lá qual for o governo de turno, e sim da recomposição da relação com os seus leitores.
Não é necessário ter bola de cristal ou de pesquisas de opinião para
saber que os brasileiros estão razoavelmente satisfeitos com a situação
econômica do país, mas ao mesmo tempo temem uma disparada de preços
porque isso significará uma redução do seu poder de compra. Seguindo
essa lógica, a estratégia mais adequada a uma aproximação com os
leitores seria destacar as formas de evitar fatores emocionais que
podem acelerar os aumentos de preço, em vez envolver-se numa obscura
estratégia eleitoral.
A reconquista da confiança dos leitores passa inevitavelmente pela preocupação jornalística com a serenidade e equilíbrio
numa conjuntura de incertezas alimentadas por ambições eleitoreiras.
Significa não inflar o fantasma da inflação e nem fenômenos como corrida
aos caixas eletrônicos por causa do boato do fim do programa Bolsa
Família. Os principais executivos e editores das indústrias da
comunicação jornalística no Brasil sabem disso melhor do que todos nós. O
que nos preocupa é por que não agem conforme o conhecimento adquirido
no exercício da profissão?
Carlos CastilhosNo Observatório da Imprensa
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